Direitos VS boas maneiras...
Um dia destes, na fila para entrar no supermercado, com a
porta ainda fechada, disse a uma senhora que “marrava” com o carrinho das
compras no meu que tinha de se afastar para trás dois metros, como estavam as
demais pessoas na fila; toda empertigada, a vellhota respondeu-me que queria
passar para a frente, porque tinha prioridade.
Aquela loja tem uma espécie de alpendre onde, encostados à
parede, estão os carros, e do outro lado um canteiro com plantas, pelo que não
tinha espaço para “ultapassagens”; quando me disse que tinha prioridade,
perguntei à criatura porquê, pois eu vi-a chegar, saír do carro e atravessar o
parque de estacionamento bem desembaraçada, não dando sinais nem de estar grávida,
nem aleijada, nem de qualquer outra maleita impeditiva de esperar ali uns
minutos.
Respondeu-me que não estava grávida nem doente mas tinha
prioridade porque já tinha mais de setenta anos; dei uma gargalhada – que eu
sou de rir barato –e retorqui-lhe que o que ela tinha era um grande
descaramento, pois eu já ia a caminho dos cem e nunca me passaria pela cabeça
reivindicar os “direitos” dessa qualidade para passar à frente da outra gente, e
se tivesse algum impedimento físico pediria por favor, não me impunha, além de
que estavam ali pessoas aparentemente bem mais velhas.
Entretanto a porta abriu e não houve mais conversa, mas eu
fiquei a pensar na facilidade como aquela senhora não se acanhou de dizer que
era velha; é que, de uma maneira geral, as senhoras não gostam de falar da
idade que têm, ou então reduzem-na bastante, mas como ali lhe convinha, aliás
sem necessidade nenhuma, pois todos entraram rapidamente, não teve problemas em
dizer a um desconhecido que tinha mais de setenta anos...
Amândio G. Martins
Passou-se comigo algo de muito similar, há duas semanas, na farmácia. Na APRe ( Associação de Pensionistas e Reformados), de que faço parte, sou um "dissidente" da opinião, por lá prevalecente, de que há muito "idadismo". Aliás veja-se os casos da "sua" e da "minha" senhoras ( salvos sejamos!) em que o que haverá é "idadismo do avesso", como eu lhe chamo. E má educação cívica com egotismo, obviamente....
ResponderEliminarSermos conscientes dos direitos é lucidez, mas também é preciso saber merecê-los; estar sempre a lançá-los à cara dos outros, tantas vezes de forma grosseira, não é mais que estupidez que leva a perder o direito de usá-los.Há tempos ouvi um sujeito gabar-se, num grupo de outros velhos, que se riam alarvemente, de ter dito à médica de família, que o terá repreendido por não cumprir o que lhe prescrevia e querer ser ele a ditar o que queria: "Ò doutora, eu não venho aqui pedir nada, só exijo os meus direitos"!
ResponderEliminarIsso não é velhice, é mesmo... estupidez convencida ( é-o quase sempre).
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