Conforme é
fácil de se verificar, a natureza sempre faz com que um prazer passageiro
preludie o cumprimento de um dever. Em razão disso, todas as criaturas sentem
uma certa satisfação ao se alimentar, dormir ou reproduzir, que são
necessidades comuns da existência.
Tais
necessidades, porém, diferem-se umas das outras; se o homem precisa de dormir
com muita frequência, o mesmo não acontece com o uso do sexo, pelo menos ele
não foi criado para uma atividade contínua.
Não se pode
aceitar, como admite o materialismo com todos os falsos profetas, incluindo
entre estes os pseudo-cientistas, que praticar relações sexuais seja o mesmo
que beber, dormir e alimentar-se, daí não ter importância fazê-las
cotidianamente.
Ao
contrário, já houve uma reunião internacional de médicos – um congresso
realizado em Oslo que proclamou, por unanimidade, ser plenamente possível a
abstenção sexual voluntária e que desta abstenção não resulta mal algum.
É óbvio que
tal abstenção deva ser absolutamente voluntária, isto é, fruto do
livre-arbítrio de uma criatura consciente, sem qualquer imposição de
circunstâncias compulsivas, como por exemplo, os traumas psíquicos e os preconceitos
religiosos de toda a espécie, inclusive os votos de celibato feitos, na
formação de sacerdotes, por jovens ainda inseguros de si mesmos, quando tal
cousa somente seria admissível numa fase de maturidade.
No
Evangelho, Jesus faz referência a dois tipos de eunucos: os que assim foram
feitos e os que assim se tornaram por amor ao reino de Deus.
Os
primeiros são os resultados das mutilações impostas pela crueldade dos homens e
os que ficaram impotentes sexuais, por força de inibições e traumas psíquicos,
tudo decorrente de abusos praticados na atual ou na pretérita existência, que
determinaram, em razão do carma (lei de causa e efeito), uma situação expioratória.
Os últimos
são os que, pelo poder de seu livre-arbítrio e pela graça de Deus, conseguiram
dominar sua força genésica em proveito de ideais superiores (sublimação) ou que
eclipsaram tal força para cumprimento de árduas missões no planeta
(compreensão).
Mahatma
Gandhi, em pleno vigor de sua virilidade, resolveu, de acordo com sua esposa,
abster-se do uso de sexo, para viver em estado de bramacharia (eunuco
voluntário).
Como
conciliar o entendimento da respeitável assembleia de médicos de Oslo com o
pensamento de Sigmund Freud, segundo o qual o ser humano não pode viver sem
sexo?
Nota-se que
o célebre cientista e psicólogo austríaco confundiu sexo com afeto.
A criatura
humana pode, perfeitamente, viver sem qualquer prática de relação sexual,
porque a natureza se encarrega, por si mesmo, de neutralizar a libido,
principalmente durante o sono, em que muitas vezes ocorrem descargas eróticas.
Sem afeto, todavia, ninguém pode viver.
Trata-se de
algo insubstituível e tipicamente humano, que não se confunde com troca de carícias
ou prática de relações sexuais, mas de uma vibração produzida pela afinidade de
fluidos que aproxima duas pessoas, num halo de paz e de bem estar, fazendo
surgir um estado de admiração e de respeito mútuo – um amor que nada exige e
que nada quer, nascido na troca de um olhar, na sequência de um diálogo
fraterno ou mesmo no silêncio da espontaneidade – “Amore viene quando vuoli, non ne bisogni de paroli”(“O amor vem
quando quer, nem precisa de conversa” – trecho de uma canção do filme “Dio come te amo").
Tal afeto
pode generalizar-se em forma de um amor universal por todas as cousas,
principalmente em relação à natureza, tão cheia de encantos e mistérios, com
suas paisagens policrômicas e suas mais diversas criaturas.
Sábios
aqueles versinhos recitados pelo famoso orador espírita Divaldo Franco, no
final de suas palestras: “Ninguém pode viver sem amor, seja o amor de uma mãe
ou de uma irmã; o afeto de irmão ou a presença de um cão. ”.
Segundo o
rigor de todo o pensamento religioso do extremo oriente, a relação sexual sem
finalidade de procriação é anticósmica e, consequentemente, geradora de débitos
cármicos.
A doutrina
espírita, menos rigorosa e por isso mais humana, vislumbra outras finalidades
no sexo, desde que não praticado fora das leis naturais ou por mera aventura,
mas com o escopo de conduzir os integrantes de um casal a uma união marcada
pela responsabilidade.
O espírito Emmanuel,
pela psicografia de Francisco C. Xavier, em “Vida e Sexo”, afirma: “Toda vez
que determinada pessoa convida outra à comunhão sexual ou aceita de alguém um
apelo neste sentido, estabelece-se entre ambas um circuito de forças, pela qual
a dupla se alimenta psiquicamente. Quando um dos parceiros foge ao compromisso
assumido, sem razão justa, lesa o outro na sustentação do equilíbrio emotivo,
pela ruptura no sistema de permuta das cargas magnéticas.”.
Parece que
o Espiritismo vê nascer um forte afeto no relacionamento sexual e este afeto
pode ser unilateral, produzido em uma só das partes, daí a necessidade
imperiosa da existência de muita responsabilidade, pois que o rompimento desse
relacionamento pode gerar um vazio de graves consequências na pessoa lesada
reclamando reparações relativamente ao causador de tal estado.
Fazendo
distinção entre Eros e libido, o eminente filósofo, cientista e pensador Huberto
Rohden, não obstante a sua intransigente posição orientalista sobre o sexo –
mero instrumento da procriação de um casal responsavelmente unido –, ele admite
qualquer cousa semelhante ao pensamento espirita, ao dizer, no livro “Entre
Dois Mundos”: “O Eros realiza uma doação recíproca entre varão e mulher, doação
que não consiste primeiramente na processação de um novo indivíduo, nem na mera
satisfação da libido, mas em algo tipicamente hominal, que é o aperfeiçoamento
dos dois pelo intercâmbio vitalizante de auras ou fluidos.”
Seja como
for, sexo livre fora da normalidade jamais pode ser aceito, porque é atentado
que não ficará impune diante das leis cósmicas, e o praticado por mera fonte de
prazer, sem nenhum compromisso entre os parceiros, isto é, que não pretendem
criar filhos ou, que não deseja criar elos afetivos para uma vida em comum,
trata-se, indubitavelmente, de luxúria, conforme consta no célebre episódio do
Gênesis, em que Eva, levada pela orientação da serpente (símbolo da
inteligência rastejante), sugeriu ao companheiro o uso do sexo exclusivamente
para o prazer e não como meio de procriação ou de fortalecimento da união do
casal.
Para mim,
com todo respeito a quem pensa ou age de forma diferente, sexo normal é o que
acontece entre homem e mulher, mas nada de oral (resquício animalesco) ou de
anal (aberração), embora seja imperioso compreender que o casal, em sua
intimidade, tenha todo o direito de escolher o que lhe for mais conveniente.
Desde o
início não houve uma proibição generalizada, pois o casal primitivo recebera
ordens para crescer e multiplicar. Não se trata, porém, de um crescimento
físico, mas moral, isto é, o casal deveria afastar-se da libido do prazer e
buscar o Eros do amor, para o nascimento de uma geração humana mais
aperfeiçoada – uma espécie de prelúdio para a humanidade futura, que, a exemplo
do Cristo, será fruto de uma concepção sem sexo.
Foi a
inversão das leis cósmicas, ou seja, o uso do sexo pura e simplesmente para a
sensualidade, que veio provocar toda a sorte de aberrações, cujas consequências
são imprevisíveis, considerando o aparecimento de graves moléstias, tal como a
AIDS, para frear os descaminhos do homem.
As leis
eternas exigem equilíbrio para a disciplina de tudo. Não pode haver somente
prazer, mas também a dor que limita os excessos ou o trabalho retificador que
dá direito ao ser humano de experimentar o gozo, como recompensa de seu reto
agir.
Assim posta
a questão, nota-se que um casal unido pelos liames da responsabilidade faz jus
ao prazer, sem criar carma, desde que esteja enfrentando a luta da criação e
educação dos filhos ou colaborando na prática de nobres ideais de solidariedade
humana, e principalmente no amparo à infância abandonada.
O casal,
porém, que vive um existencialismo inútil, recolhido ao aconchego de uma vida
egoística, desprovido de qualquer ideal, sem filhos ou criando-os sem interesse
de educá-los, não se expondo ao menor sacrifício, este, tal qual os aventureiros
em geral, está praticando a luxúria e, consequentemente, incurso na conhecida
maldição do Gênesis: “Maldita seja a terra por sua causa!...”
" O coito do Morgado" (escrito em linguagem corrida)
ResponderEliminarTem como fim cristalino, preciso e imaculado, fazer menino ou menina; e cada vez que o varão, sexual petisco manduca, temos na procriação, prova de que houve truca-truca. Sendo pai de um só rebento, lógica é a conclusão, de que o viril instrumento, só usou - parca ração! -uma vez. E se a função faz o orgão, diz o ditado. consumada essa excepção... ficou capado o Morgado.
Porque dei comigo a pensar que o nosso blogue é um espanto... aqui deixo, com os melhores cumprimentos, o poema feito e dito na Assembleia da República pela poetisa e deputada (PSD) Natália Correia, em 1982, em jeito de resposta ao também deputado João Morgado (CDS), que afirmou que " o acto sexual é para fazer filhos". Tudo no debate parlamentar sobre a despenalização do aborto.
O dr. Fernando às vezes pôe-me a falar baixinho ( a remoer). Noutras vezes, como nesta, nem sei o que dizer...
ResponderEliminarParabéns.
Não me canso de me questionar por que razão há-de haver sempre alguém a querer regular a minha vida. Pois se eu nem me meto com os abstencionistas do sexo! Por mim, podem continuar à vontade. Eu incomodo-os?
ResponderEliminarMas há uma coisa no texto com que eu concordo: as criaturas podem viver sem prática de relação sexual. Mas não é a mesma coisa. Eles é que não sabem.
Pois se até os bichinhos tanto gostam...
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