domingo, 31 de maio de 2020

LIMITAÇÕES NATURAIS DO USO DE SEXO


Conforme é fácil de se verificar, a natureza sempre faz com que um prazer passageiro preludie o cumprimento de um dever. Em razão disso, todas as criaturas sentem uma certa satisfação ao se alimentar, dormir ou reproduzir, que são necessidades comuns da existência.
Tais necessidades, porém, diferem-se umas das outras; se o homem precisa de dormir com muita frequência, o mesmo não acontece com o uso do sexo, pelo menos ele não foi criado para uma atividade contínua.
Não se pode aceitar, como admite o materialismo com todos os falsos profetas, incluindo entre estes os pseudo-cientistas, que praticar relações sexuais seja o mesmo que beber, dormir e alimentar-se, daí não ter importância fazê-las cotidianamente.
Ao contrário, já houve uma reunião internacional de médicos – um congresso realizado em Oslo que proclamou, por unanimidade, ser plenamente possível a abstenção sexual voluntária e que desta abstenção não resulta mal algum.
É óbvio que tal abstenção deva ser absolutamente voluntária, isto é, fruto do livre-arbítrio de uma criatura consciente, sem qualquer imposição de circunstâncias compulsivas, como por exemplo, os traumas psíquicos e os preconceitos religiosos de toda a espécie, inclusive os votos de celibato feitos, na formação de sacerdotes, por jovens ainda inseguros de si mesmos, quando tal cousa somente seria admissível numa fase de maturidade.
No Evangelho, Jesus faz referência a dois tipos de eunucos: os que assim foram feitos e os que assim se tornaram por amor ao reino de Deus.
Os primeiros são os resultados das mutilações impostas pela crueldade dos homens e os que ficaram impotentes sexuais, por força de inibições e traumas psíquicos, tudo decorrente de abusos praticados na atual ou na pretérita existência, que determinaram, em razão do carma (lei de causa e efeito), uma situação expioratória.
Os últimos são os que, pelo poder de seu livre-arbítrio e pela graça de Deus, conseguiram dominar sua força genésica em proveito de ideais superiores (sublimação) ou que eclipsaram tal força para cumprimento de árduas missões no planeta (compreensão).
Mahatma Gandhi, em pleno vigor de sua virilidade, resolveu, de acordo com sua esposa, abster-se do uso de sexo, para viver em estado de bramacharia (eunuco voluntário).
Como conciliar o entendimento da respeitável assembleia de médicos de Oslo com o pensamento de Sigmund Freud, segundo o qual o ser humano não pode viver sem sexo?
Nota-se que o célebre cientista e psicólogo austríaco confundiu sexo com afeto.
A criatura humana pode, perfeitamente, viver sem qualquer prática de relação sexual, porque a natureza se encarrega, por si mesmo, de neutralizar a libido, principalmente durante o sono, em que muitas vezes ocorrem descargas eróticas. Sem afeto, todavia, ninguém pode viver.
Trata-se de algo insubstituível e tipicamente humano, que não se confunde com troca de carícias ou prática de relações sexuais, mas de uma vibração produzida pela afinidade de fluidos que aproxima duas pessoas, num halo de paz e de bem estar, fazendo surgir um estado de admiração e de respeito mútuo – um amor que nada exige e que nada quer, nascido na troca de um olhar, na sequência de um diálogo fraterno ou mesmo no silêncio da espontaneidade – “Amore viene quando vuoli, non ne bisogni de paroli”(“O amor vem quando quer, nem precisa de conversa” – trecho de uma canção do filme “Dio come te amo").
Tal afeto pode generalizar-se em forma de um amor universal por todas as cousas, principalmente em relação à natureza, tão cheia de encantos e mistérios, com suas paisagens policrômicas e suas mais diversas criaturas.
Sábios aqueles versinhos recitados pelo famoso orador espírita Divaldo Franco, no final de suas palestras: “Ninguém pode viver sem amor, seja o amor de uma mãe ou de uma irmã; o afeto de irmão ou a presença de um cão. ”.
Segundo o rigor de todo o pensamento religioso do extremo oriente, a relação sexual sem finalidade de procriação é anticósmica e, consequentemente, geradora de débitos cármicos.
A doutrina espírita, menos rigorosa e por isso mais humana, vislumbra outras finalidades no sexo, desde que não praticado fora das leis naturais ou por mera aventura, mas com o escopo de conduzir os integrantes de um casal a uma união marcada pela responsabilidade.
O espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco C. Xavier, em “Vida e Sexo”, afirma: “Toda vez que determinada pessoa convida outra à comunhão sexual ou aceita de alguém um apelo neste sentido, estabelece-se entre ambas um circuito de forças, pela qual a dupla se alimenta psiquicamente. Quando um dos parceiros foge ao compromisso assumido, sem razão justa, lesa o outro na sustentação do equilíbrio emotivo, pela ruptura no sistema de permuta das cargas magnéticas.”.
Parece que o Espiritismo vê nascer um forte afeto no relacionamento sexual e este afeto pode ser unilateral, produzido em uma só das partes, daí a necessidade imperiosa da existência de muita responsabilidade, pois que o rompimento desse relacionamento pode gerar um vazio de graves consequências na pessoa lesada reclamando reparações relativamente ao causador de tal estado.
Fazendo distinção entre Eros e libido, o eminente filósofo, cientista e pensador Huberto Rohden, não obstante a sua intransigente posição orientalista sobre o sexo – mero instrumento da procriação de um casal responsavelmente unido –, ele admite qualquer cousa semelhante ao pensamento espirita, ao dizer, no livro “Entre Dois Mundos”: “O Eros realiza uma doação recíproca entre varão e mulher, doação que não consiste primeiramente na processação de um novo indivíduo, nem na mera satisfação da libido, mas em algo tipicamente hominal, que é o aperfeiçoamento dos dois pelo intercâmbio vitalizante de auras ou fluidos.”
Seja como for, sexo livre fora da normalidade jamais pode ser aceito, porque é atentado que não ficará impune diante das leis cósmicas, e o praticado por mera fonte de prazer, sem nenhum compromisso entre os parceiros, isto é, que não pretendem criar filhos ou, que não deseja criar elos afetivos para uma vida em comum, trata-se, indubitavelmente, de luxúria, conforme consta no célebre episódio do Gênesis, em que Eva, levada pela orientação da serpente (símbolo da inteligência rastejante), sugeriu ao companheiro o uso do sexo exclusivamente para o prazer e não como meio de procriação ou de fortalecimento da união do casal.
Para mim, com todo respeito a quem pensa ou age de forma diferente, sexo normal é o que acontece entre homem e mulher, mas nada de oral (resquício animalesco) ou de anal (aberração), embora seja imperioso compreender que o casal, em sua intimidade, tenha todo o direito de escolher o que lhe for mais conveniente.
Desde o início não houve uma proibição generalizada, pois o casal primitivo recebera ordens para crescer e multiplicar. Não se trata, porém, de um crescimento físico, mas moral, isto é, o casal deveria afastar-se da libido do prazer e buscar o Eros do amor, para o nascimento de uma geração humana mais aperfeiçoada – uma espécie de prelúdio para a humanidade futura, que, a exemplo do Cristo, será fruto de uma concepção sem sexo.
Foi a inversão das leis cósmicas, ou seja, o uso do sexo pura e simplesmente para a sensualidade, que veio provocar toda a sorte de aberrações, cujas consequências são imprevisíveis, considerando o aparecimento de graves moléstias, tal como a AIDS, para frear os descaminhos do homem.
As leis eternas exigem equilíbrio para a disciplina de tudo. Não pode haver somente prazer, mas também a dor que limita os excessos ou o trabalho retificador que dá direito ao ser humano de experimentar o gozo, como recompensa de seu reto agir.
Assim posta a questão, nota-se que um casal unido pelos liames da responsabilidade faz jus ao prazer, sem criar carma, desde que esteja enfrentando a luta da criação e educação dos filhos ou colaborando na prática de nobres ideais de solidariedade humana, e principalmente no amparo à infância abandonada.
O casal, porém, que vive um existencialismo inútil, recolhido ao aconchego de uma vida egoística, desprovido de qualquer ideal, sem filhos ou criando-os sem interesse de educá-los, não se expondo ao menor sacrifício, este, tal qual os aventureiros em geral, está praticando a luxúria e, consequentemente, incurso na conhecida maldição do Gênesis: “Maldita seja a terra por sua causa!...”

4 comentários:

  1. " O coito do Morgado" (escrito em linguagem corrida)

    Tem como fim cristalino, preciso e imaculado, fazer menino ou menina; e cada vez que o varão, sexual petisco manduca, temos na procriação, prova de que houve truca-truca. Sendo pai de um só rebento, lógica é a conclusão, de que o viril instrumento, só usou - parca ração! -uma vez. E se a função faz o orgão, diz o ditado. consumada essa excepção... ficou capado o Morgado.

    Porque dei comigo a pensar que o nosso blogue é um espanto... aqui deixo, com os melhores cumprimentos, o poema feito e dito na Assembleia da República pela poetisa e deputada (PSD) Natália Correia, em 1982, em jeito de resposta ao também deputado João Morgado (CDS), que afirmou que " o acto sexual é para fazer filhos". Tudo no debate parlamentar sobre a despenalização do aborto.

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  2. O dr. Fernando às vezes pôe-me a falar baixinho ( a remoer). Noutras vezes, como nesta, nem sei o que dizer...
    Parabéns.

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  3. Não me canso de me questionar por que razão há-de haver sempre alguém a querer regular a minha vida. Pois se eu nem me meto com os abstencionistas do sexo! Por mim, podem continuar à vontade. Eu incomodo-os?
    Mas há uma coisa no texto com que eu concordo: as criaturas podem viver sem prática de relação sexual. Mas não é a mesma coisa. Eles é que não sabem.

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  4. Pois se até os bichinhos tanto gostam...

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