sexta-feira, 1 de maio de 2020

O ANGLICISMO NO BRASIL E SEU DIFÍCIL COMBATE


Estou hoje anexando um vídeo, em caráter de curiosidade, sobre o singular palavreado das pessoas que moram nos recantos mais afastados dos nossos grandes centros, são os chamados sertanejos, caipiras, matutos e vários outras denominações regionais.
O interiorano brasileiro gosta de contar passagens marcantes de suas vidas, as quais eles chamam de, proza e também de “causos”, com criação muito imaginativa de termos linguísticos, característicos e exclusivos, embora entendíveis. No vídeo acima, antecipando uma de suas inúmeras passagens, ele conta de maneira muito simplória quando viu pela primeira vez um rádio, grande na época. Ao se referir ao botão de sintonia, disse tratar-se de “imbigo” do rádio, com alusão e comparação ao umbigo humano.
Agora, diante da atual pandemia que assola o mundo, eles estão deveras desnorteados com as palavras utilizadas pelas nossas autoridades e pela media em geral, que visam apenas às elites mais letradas. Aparece uma autoridade na televisão anunciando que os restaurantes estarão fechados, mas que é permitido o delivery. Uma pessoa simples veio me perguntar: “Qual o endereço deste tal delivéri (pronúncia dele) ”? Tive que explicar que este termo era uma palavra inglesa que significava entrega; em seguida saiu reclamando— “que diacho, porque não se usa uma palavra nossa”. Outro dia veio um ministro dar o seguinte comunicado: “se não houver obediência ao confinamento parcial, sou obrigado a fazer um lockdown”, então reclamou um suburbano— que bicho é esse!
 A nossa autoridade maior, o presidente da República, quando se refere a uma concordância, termina sempre dizendo: “Está okay (Ok) ou simplificadamente “tá okay”, cujo som está sendo deturpado para “talkey”, o que virou moda no Brasil, sobretudo para criticá-lo.
As palavras de origem inglesa no nosso idioma (anglicismo), antigamente restritas somente ao campo da tecnológica e da informática, têm invadido de forma avassaladora a todos os setores de nossa vida, que vão desde o básico até as mais complexas atividades. O pior, sem nenhuma ação das autoridades e dos guardiões de nossa língua e cultura, para que pelo menos possa amenizar esta situação.
Para que usar exageradamente os termos da língua inglesa, se a grande maioria da população tem dificuldade de entender até algumas palavras provenientes da língua portuguesa mais erudita. Há pouco tempo uma pessoa muito simplória, ao assistir a um debate político, ouviu a expressão “cláusulas pétreas” referindo-se àquelas imutáveis da constituição, entendeu ele como causas pétreas, e me disse: “Isso para mim é uma doença em que as fezes endurecem no intestino, não deixando passagem para saída, que os mais antigos chamavam de —nó nas tripas”.
Gosto de escrever, embora tenha alguma dificuldade em manejar com destreza os meandros da nossa língua, principalmente nas terríveis regras de concordância. Sendo antigo professor de engenharia, costumado a lidar com números, me esqueci de cultivar estas preciosas regras linguísticas. Conto com a revisão dos meus escritos com ajuda do meu mano, Vivaldo Jorge de Araújo, consagrado professor da língua portuguesa, inclusive com publicações. Ele também é inscrito neste blog e tem nos blindado com bons artigos de natureza diversa. Ele sempre alega dever parte de sua formação linguística a um saudoso professor nascido em Portugal, antigo morador no interior do Brasil Hermenegildo Marques Veloso, natural da cidade Figueira da Foz, à qual ele chamava carinhosamente de “joia portuguesa do Atlântico”.

4 comentários:

  1. Gosto muito de ler o que escrevem os dois, e até já os confundi; quanto aos anglicismos, também por cá os puristas da língua reclamam do seu uso excessivo e escusado, por haver termos nossos equivalentes, só que os "viciados" naqueles termos os usam por acharem mais "chique"...

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  2. Os anglicismos são uma "praga", cá e aí.E eles passaram a "fazer lei", mormente no jargão económico/financeiro. Mas nós, portugueses, temos um problema talvez ainda maior com o Acordo Ortográfico, que muita gente não "entende" de todo. Até porque toma como matriz orientadora o "português do Brasil", o que parece um pouco "virar as coisas ao contrário", para além da questão muito prática dos (diferentes) significados. O seu texto tem muito humor mas- dentro do tema que o origina - diga-me, por favor, o que é..."proza"? E, quando nos disse que o seu mano " nos tem blindado..." não quereria dizer... "brindado"? Muda o sentido da frase, não acha?...

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    1. Caro Fernando, boa tarde, deve ser boa noite por aí
      Agradeço o seu comentário, passarei a responder suas indagações:
      “Proza” é um derivativo sertanejo de prosa (conversar, bater- papo, tirar um dedo de prosa, jogar conversa fora, quando acompanhado de bebida, “molhar a palavra” etc.), alguns escritores desta área, preferem o uso do “Z”, a razão não sei te explicar, assim quando conta um caso eles derivam para “causo”.
      Quanto a palavra brindada você tem razão, fica por conta de minha maldição linguística que tenho desde criança (olha que não sou novo), a famosa dupla lambdacismo e rotacismo, aquele velho vício de linguagem na troca do L pelo R, e vice-versa, e que passou despercebido pelo meu irmão na revisão. Peço desculpa por ter agredido de certa forma a nossa querida língua de Camões.
      Em tempo: aproveitando para uma brincadeira- na região do Brasil que eu resido, tem-se o costume de se organizar dupla de cantores, com repertórios focados em músicas chamadas de sertanejas, nos mesmos moldes da country dos EUA. Estas duplas chamadas de sertanejas(raiz ou universitária), caipiras, apresentam nomes dos mais exóticos, vou sugerir o nome “lambdacismo e rotacismo”

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    2. Boa noite! Então "proza" é uma corruptela de "prosa", é assim? Supunha que "prosa" se escrevia com "s". em todas a situções. Obrigado.

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