Estou hoje anexando um vídeo, em
caráter de curiosidade, sobre o singular palavreado das pessoas que moram nos
recantos mais afastados dos nossos grandes centros, são os chamados sertanejos,
caipiras, matutos e vários outras denominações regionais.
O interiorano brasileiro gosta de contar
passagens marcantes de suas vidas, as quais eles chamam de, proza e também de
“causos”, com criação muito imaginativa de termos linguísticos, característicos
e exclusivos, embora entendíveis. No vídeo acima, antecipando uma de suas
inúmeras passagens, ele conta de maneira muito simplória quando viu pela
primeira vez um rádio, grande na época. Ao se referir ao botão de sintonia,
disse tratar-se de “imbigo” do rádio, com alusão e comparação ao umbigo humano.
Agora, diante da atual pandemia que
assola o mundo, eles estão deveras desnorteados com as palavras utilizadas pelas
nossas autoridades e pela media em geral, que visam apenas às elites mais
letradas. Aparece uma autoridade na televisão anunciando que os restaurantes
estarão fechados, mas que é permitido o delivery. Uma pessoa simples
veio me perguntar: “Qual o endereço deste tal delivéri (pronúncia dele) ”? Tive
que explicar que este termo era uma palavra inglesa que significava entrega; em
seguida saiu reclamando— “que diacho, porque não se usa uma palavra nossa”.
Outro dia veio um ministro dar o seguinte comunicado: “se não houver obediência
ao confinamento parcial, sou obrigado a fazer um lockdown”, então
reclamou um suburbano— que bicho é esse!
A nossa autoridade maior, o presidente da República,
quando se refere a uma concordância, termina sempre dizendo: “Está okay (Ok) ou
simplificadamente “tá okay”, cujo som está sendo deturpado para “talkey”, o que
virou moda no Brasil, sobretudo para criticá-lo.
As palavras de origem inglesa no
nosso idioma (anglicismo), antigamente restritas somente ao campo da
tecnológica e da informática, têm invadido de forma avassaladora a todos os
setores de nossa vida, que vão desde o básico até as mais complexas atividades.
O pior, sem nenhuma ação das autoridades e dos guardiões de nossa língua e
cultura, para que pelo menos possa amenizar esta situação.
Para que usar exageradamente os
termos da língua inglesa, se a grande maioria da população tem dificuldade de
entender até algumas palavras provenientes da língua portuguesa mais erudita. Há
pouco tempo uma pessoa muito simplória, ao assistir a um debate político, ouviu
a expressão “cláusulas pétreas” referindo-se àquelas imutáveis da constituição,
entendeu ele como causas pétreas, e me disse: “Isso para mim é uma doença em
que as fezes endurecem no intestino, não deixando passagem para saída, que os
mais antigos chamavam de —nó nas tripas”.
Gosto de escrever, embora tenha
alguma dificuldade em manejar com destreza os meandros da nossa língua, principalmente
nas terríveis regras de concordância. Sendo antigo professor de engenharia,
costumado a lidar com números, me esqueci de cultivar estas preciosas regras
linguísticas. Conto com a revisão dos meus escritos com ajuda do meu mano,
Vivaldo Jorge de Araújo, consagrado professor da língua portuguesa, inclusive
com publicações. Ele também é inscrito neste blog e tem nos blindado com
bons artigos de natureza diversa. Ele sempre alega dever parte de sua formação
linguística a um saudoso professor nascido em Portugal, antigo morador no
interior do Brasil Hermenegildo Marques Veloso, natural da cidade Figueira da
Foz, à qual ele chamava carinhosamente de “joia portuguesa do Atlântico”.
Gosto muito de ler o que escrevem os dois, e até já os confundi; quanto aos anglicismos, também por cá os puristas da língua reclamam do seu uso excessivo e escusado, por haver termos nossos equivalentes, só que os "viciados" naqueles termos os usam por acharem mais "chique"...
ResponderEliminarOs anglicismos são uma "praga", cá e aí.E eles passaram a "fazer lei", mormente no jargão económico/financeiro. Mas nós, portugueses, temos um problema talvez ainda maior com o Acordo Ortográfico, que muita gente não "entende" de todo. Até porque toma como matriz orientadora o "português do Brasil", o que parece um pouco "virar as coisas ao contrário", para além da questão muito prática dos (diferentes) significados. O seu texto tem muito humor mas- dentro do tema que o origina - diga-me, por favor, o que é..."proza"? E, quando nos disse que o seu mano " nos tem blindado..." não quereria dizer... "brindado"? Muda o sentido da frase, não acha?...
ResponderEliminarCaro Fernando, boa tarde, deve ser boa noite por aí
EliminarAgradeço o seu comentário, passarei a responder suas indagações:
“Proza” é um derivativo sertanejo de prosa (conversar, bater- papo, tirar um dedo de prosa, jogar conversa fora, quando acompanhado de bebida, “molhar a palavra” etc.), alguns escritores desta área, preferem o uso do “Z”, a razão não sei te explicar, assim quando conta um caso eles derivam para “causo”.
Quanto a palavra brindada você tem razão, fica por conta de minha maldição linguística que tenho desde criança (olha que não sou novo), a famosa dupla lambdacismo e rotacismo, aquele velho vício de linguagem na troca do L pelo R, e vice-versa, e que passou despercebido pelo meu irmão na revisão. Peço desculpa por ter agredido de certa forma a nossa querida língua de Camões.
Em tempo: aproveitando para uma brincadeira- na região do Brasil que eu resido, tem-se o costume de se organizar dupla de cantores, com repertórios focados em músicas chamadas de sertanejas, nos mesmos moldes da country dos EUA. Estas duplas chamadas de sertanejas(raiz ou universitária), caipiras, apresentam nomes dos mais exóticos, vou sugerir o nome “lambdacismo e rotacismo”
Boa noite! Então "proza" é uma corruptela de "prosa", é assim? Supunha que "prosa" se escrevia com "s". em todas a situções. Obrigado.
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