sexta-feira, 1 de maio de 2020

Confio no PÚBLICO


Não poucas vezes, estou de acordo com os textos de Santana Castilho no PÚBLICO. É o caso do artigo que, parafraseando Torga, intitulou “Esta comédia desumana e triste”, sobretudo na parte dedicada à anormalidade de vida para que o vírus, sem vida e com morte, nos empurrou. Perante o “massacre noticioso dos telejornais” (e da imprensa escrita e da rádio, acrescente-se…), somos constantemente polvilhados de “pensamento único”, produzido por especialistas de saúde, sejam virologistas ou epidemiologistas, devidamente “sintonizados” na prescrição de variegados procedimentos. Será que não há ninguém, nessa área de saber específico, que discorde da opinião dominante? Ou os especialistas que não pensam da mesma maneira têm medo de vir a terreiro? Quero acreditar que Santana Castilho sabe do que fala quando cita os especialistas que pensam a contrario sensu. É porque existem. Mas não se vêem porque não querem aparecer ou porque os afastam? Tenho esperança de que o PÚBLICO nunca enverede pelo caminho do silenciamento, mesmo que em nome de uma atitude paternalista de “proteger” os seus leitores que, claramente, a dispensam.

6 comentários:

  1. Como eu discordo de si! Não quanto à crença no PÚBLICO - embora não seja tão inelutável nesse acreditar - mas sim de como vi o artigo de Santana Castilho. No próprio dia da publicação enviei uma carta ao director, mas, como não mereceu publicação, vou colocá-la aqui no blogue, mais logo, e poderá ver o que penso.

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    1. Caro Fernando,
      Permito-me englobar nesta resposta algumas considerações sobre o seu post “Assim não, Sr. Professor!”.
      É possível que tenha razão na “macedónia de raivas” que atribui a SC. Julgo que é o seu (dele) estilo e não é a primeira vez que o deixa assim fluir, por muito que gostemos ou não.
      O que me levou a escrever a carta (“Confio no Público”) que também enviei ao Público - e que também não obteve honras de publicação - foi o desejo de SC, que partilho, de sacudir uma onda de unanimismo e paternalismo que me incomoda, e que leva a maioria dos órgãos de comunicação social a quase silenciar os especialistas que não alinham pela “cartilha oficial”.
      Eu não sei quem tem razão e, aliás, julgo que nunca se saberá, na questão de aferir qual teria sido a estratégia ideal a seguir no combate ao vírus, isto é, a que evitaria o maior número de mortes, atendendo a todas as vertentes, presentes e futuras, do problema. (Não me acuse de ser economicista porque julgo saber que tem razões para não me catalogar dessa forma).
      Vou apenas citar Pedro Simas, virologista, coordenador do Instituto de Medicina Molecular, no Expresso do passado dia 25 de Abril: “Se protegermos os grupos de risco, se calhar até atingimos a imunidade necessária em alguns meses. O outro caminho, o do confinamento completo, é humanamente impossível de manter.”
      Será que, na minha imensa ignorância em questões de Medicina, estou a interpretar mal?
      Seja como for, se sabemos que há mais opiniões credenciadas, por que razões não somos delas informados? Pareceu-me ser esse o desiderato de SC, que é, também, o meu.

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    2. José, o meu amigo atem-se ao ponto do "unanimismo" dos tais especialistas, enquanto eu não desvalorixo em nada todo o rol de coisas que S.C. engloba no seu artigo, que são diversas ( como o escrevi) e bem embebidas num tom onde se adivinha, mais que um estilo, algo de muito "raivoso" no tom geral.
      Mas pronto, fiquemos então pelos pelos "especialistas que não alinham pela cartilha oficial", como os designa. E começo por dizer que essa designação é, na minha opinião, excessiva, até porque - e estamos numa pandemia vírica e não numa guerra, ou num debate político ( embora tudo isto, obviamente, seja, como tudo, um fenómeno "político"). E a escolha que faz para exemplificar, Pedro Simas, seja mesmo um caso em que a sua voz se faz ouvir pois já o vi aí umas trés vezes na televisão. E é curioso que fale da "protecção dos grupos de risco", em que avultam os velhos, e esta fizesse parte, em alínea especial, dos decretos do estado de emergência... e tivesse sido "lida" por estes, na APRe, como "confinamento" e, mais, como confinamento malevolamente intencional e quase "nazi"! Está ver como são as coisas? E, também "curiosamente", voltando a Pedro Simas, o que este defendia era uma das duas teses epidemiológicas ( e não de "cartilha"...) que estiveram sempre em confronto: "imunidade de manada" ou confinamento controlado ( com protecção aos que velhos, os que mais morrem ) até atingir um planalto que permitisse abrir a sociedade. A primeira "perdeu", como se viu na Grã-Bretanha, "vencendo" a segunda, que é o caso de Portugal ( as aspas são só para relevar que o "combate" não é político mas sim sanitário/económico/social). Terminando: "não fomos informados"?! Todos os dias e sem calar ninguém! Só que com a escolha duma linha que, para já, se está a revelar apropriada.
      Em nota de rodapé, e se mo permite, veja a entrevista do Prof. Henrique de Barros a Vítor Gonçalves na RTP3, na "Grande Entrevista" da passada 5ª feira, 30/Abril. Foi quase com entusiasmo que vi um espírito científico isento e sabedor ( como é apanágio da verdadeira ciência" a falar com calma e didactismo sem pretensões. Num aparte mais, e porque me esqueci de o relevar antes, acho que os aposentados e reformados entenderam que a tal "protecção" era para sociedade e não para eles...

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    3. Caro Fernando,
      Como sabe, apenas me debrucei sobre o assunto do “unanimismo” de certa comunicação social, também verberado por SC. Sobre os restantes pensamentos de SC, poderíamos conversar, crendo eu que, em várias coisas, estaríamos completamente de acordo. Mas não é o caso.
      Talvez eu esteja errado, mas constato, mergulhado na avalanche noticiosa (e prescritora) sobre a questão, que há grande preocupação - e muito bem! - com os efeitos imediatos da doença; muito menos - e muito mal! - com os que advirão, no futuro próximo e longínquo, das medidas tomadas para a contenção da pandemia. Desculpe a anedota, desproporcionada e se calhar imprópria, mas faz-me lembrar o drama de alguém a quem se amputa uma perna por causa de uma unha encravada.
      O Fernando teve “sorte” em ter visto Pedro Simas algumas vezes. Para além da entrevista do Expresso, eu não o vi nem ouvi. Mas a culpa deve ser minha, porque, além de não dedicar muito do meu tempo à TV, procuro fugir do assunto covid-19 que, com sinceridade, e pelo massacre, já me causa algumas náuseas.
      Nessa entrevista (que fui agora reler), não detectei qualquer “condenação” dos velhos, ao contrário do que parece insinuar. Vi, sim, a recomendação de protecção dos grupos de risco. Claro que haverá sempre quem confunda protecção com isolamento, bem sei, mesmo entre os que “mandam”, e esse é um grande problema.
      Agradeço-lhe a recomendação para ver a entrevista do Prof. Henrique de Barros, que acatei de muito bom grado. Teria sido uma fantástica peça televisiva se o inefável Vítor Rodrigues não interrompesse nem sobrepusesse tantas vezes a sua voz à do entrevistado. Mas gostei de ver um autêntico “espírito científico isento e sabedor”, até na humildade, também ela científica, com que assumiu o “não sabemos ainda” e a improvisação no momento da decisão. Sobretudo, a assunção de que a decisão sobre os caminhos a tomar tem de ser “política”, quantas vezes baseada na improvisação e na especulação, e quase sempre a partir de uma base de conhecimento limitado.
      Em retribuição, recomendo-lhe a leitura da entrevista de Johan Giesecke, ex-cientista-chefe do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), no Público de hoje (esta recomendação deve ser despicienda, pois acredito que o Fernando já a tenha lido). Esta sim, em arrepio ao “pensamento único”. Nela se diz que “... o confinamento nunca devia ter começado.”
      Das entrevistas que nos recomendámos mutuamente, retirei algumas conclusões (provisórias, é evidente…), e reforcei a convicção, que já tinha, de que ninguém sabia no que se estava a meter. Muitos agiram por medo, que é mau conselheiro, e “quiseram mostrar que estavam a actuar, que eram decididos, e tomaram muitas decisões com base em muito poucas provas científicas”.

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    4. Desculpe voltar aqui mas em relação aos idosos, dei-lhe uma impressão errada. Olhe que no grupo da APRe fechado, no Facebook, até sou quase voz única que pensa que não há nem houve, nem sequer em intenção, de discriminar, segregando, os velhos! Só protegê-los!
      Quanto ao epidemiologista sueco que me aconselha, ele é claramente pela "imunidade de manada", com o que não concordo, como quase todos os países não concordaram. E, depois de o ler, ainda me diatanciei mais das suas ideias pois - ele sim- pouco se importou que o número de mortos na Suécia fosse muito mais elevado do que o que já seria de esperar nos velhos! No fundo, para a tese dele, eles já eram velhos e assim....

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    5. Compreendo e aceito o seu ponto de vista. Contudo, pessoalmente, não me atrevo a ir tão longe.

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