terça-feira, 19 de maio de 2020


Velhos barulhentos e peideiros...


Dos “rapazes” do meu tempo que ainda mexem, alguns adoram provocar-me porque não alinho nas suas patuscadas e excursões; e nem quando passam aqui em frente, dizem, conseguem põr-me a vista em cima, que eu não só me escondo  como escondo até a casa, tal a altura dos portões e da vedação que a rodeia.

 Eu respondo-lhes que, como gosto de andar cá dentro despido, mantenho tudo à volta bem vedado para não escandalizar ninguém, mas se as saudades forem assim tão grandes, há no portão principal um dispositivo que, se puxarem o manípulo, acciona uma sineta que acorda meia aldeia, tendo eu muito prazer em os receber para um café, nada de copos.

Reformados quase todos do estrangeiro, do trabalho de lavoura só fazem o que couber ao tractor, que o trabalho de enxada fica todo para a “velha”, coitada, que ainda tem de fazer a comida e cuidar dos animais; quando os provoco com isso, respondem que tiveram lá fora uma vida dura, no que eu acredito, e têm direito a gozar um pouco agora, para o que se juntam em excursões que percorrem grande parte do país; quando me tentam para que vá também, eu sempre me escuso, na gargalhada, que nem morto entrava num autocarro cheio de velhos barulhentos e peideiros, ao som das brejeirices do Quim Barreiros.  “Eh, pá, ninguém se peida lá dentro”!

Mas deve ter sido um desses brincalhões que, pela calada da noite, colocou na minha sebe a placa de uma imobiliária, surripiada de um terreno próximo que está à venda, e quando de manhã ia a saír fiquei a saber que também tinha a casa à venda sem o meu conhecimento; ainda não tive tempo para “investigar”, mas depressa saberei qual foi o engraçado, que eles “descaem-se” muito...


Amândio G. Martins

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