Calma lá, ó senhor vinho...

Nunca fui de copos, mas sempre apreciei ao almoço um bom vinho maduro tinto, de preferência do Alentejo, prazer de que há muito voluntariamente me privei porque, cá em casa, só eu bebo;  e como detesto beber de uma garrafa que foi aberta dias antes, pois cada uma dá-me para três a quatro refeições, passei a cometer o “sacrilégio” de acompanhar o almoço com uma “mini” preta, que ao jantar não como nada que peça bebida.

Mas hoje, que tive a presença do meu filho e da nora, há uma “eternidade” impedidos de cá fazer uma visita, foi dia de abrirmos uma excelente pomada que ele trouxe para isso mesmo, só que, mesmo assim, ainda sobrou quase meia garrafa porque a minha nora, que normalmente já bebe pouco, agora que espera bebé não pode mesmo ingerir bebidas com álcool.

Mas o vinho, a cuja produção se dedicam muitos portugueses, não estará a passar um bom momento, com restaurantes e hotelaria em geral há tanto tempo impedidos de funcionar; é verdade que se pode comprar e beber vinho onde apeteça, pois os locais de abastecimento funcionaram normalmente, mas não é a mesma coisa que fazê-lo em ambiente de convívio apropriado.

E os produtores não devem estar a passar os melhores momentos -  agora que se intensificam as despesas com as vinhas para a próxima colheita - com exportações a passo de caracol e os consumos acima referidos muito reduzidos. Tenho uma ripa de madeira, oriunda da Galiza, onde constam os “dez mandamientos del vino”, de que destaco três: “Nunca se haga el desatino de mesclar agua con vino; jurar beberlo en verano y en invierno; honrar al tinto y al blanco”...

Amândio G. Martins