Terá ficado muito aquém...
...Do que dele esperavam muitos dos que o fizeram presidente,
porque presidir a um país daqueles é comandar uma máquina diabólica, mas não tenho
grandes dúvidas de que o homem que escreveu este livro continua o mesmo. Transcrevo
abaixo um pequeno trexo.
“...E então, a 11 de setembro de 2001, o mundo fracturou-se.
Está para além das minhas capacidades captar esse dia e os que se lhe seguiram –
os aviões, como espectros, desaparecendo no aço e no vidro; a cascata em câmara
lenta de torres caindo sobre si mesmas; os vultos cobertos de cinzas a vaguear
pelas ruas; a angústia e o medo. Nem tenho a veleidade de compreender o
niilismo violento que impeliu os terroristas naquele dia e continua a impelir
os seus irmãos. Os meus poderes de empatia, a minha capacidade de chegar ao
coração dos outros, não consegue penetrar os olhares vazios e fixos daqueles
que assassinam com uma satisfação abstracta e serena.
O que realmente sei é que a história regressou, naquele dia,
com uma vingança; que, na verdade, tal como Faulkner nos lembra, o passado
nunca está morto e enterrado – nem sequer é passado. Esta história colectiva,
este passado, toca directamente no meu. Não só porque as bombas da Al Qaeda
marcaram, com uma precisão sinistra, algumas das paisagens da minha vida – os edifícios
e estradas e rostos de Nairobi, Bali, Manhattan; não só porque, em consequência
do 11 de setembro, o meu nome é um alvo irresistível de websites trocistas de
operacionais republicanos excessivamente zelosos.
Mas também porque a
luta subjacente – entre mundos de abundância e mundos de necessidade; entre o
moderno e o antigo; entre aqueles que apoiam a nossa diversidade fervilhante,
discordante, cansativa, enquanto continuam a insistir num conjunto de valores
que nos unem, e aqueles que procuram, sob qualquer bandeira ou slogan ou texto
sagrado, uma certeza e simplificação que justifiquem a crueldade para com os
que não são como nós.
Conheço, ví-os, o desespero e a desorientação dos impotentes:
como torce as vidas de crianças nas ruas de Jacarta ou Nairobi de uma forma
muito semelhante a como o faz às vidas de crianças na Zona Sul de Chicago, quão estreito é para elas o
caminho entre a humilhação e a fúria sem entraves, quão facilmente caem na violência
e no desespero. Sei a resposta dos poderosos a esta anarquia – alternando entre
uma complacência apática e, quando a anarquia ultrapassa os limites, uma
aplicação firme e irreflectida da força, de penas de prisão mais longas e
equipamento militar mais sofisticado. Sei que o endurecimento das posições, a
adesão ao fundamentalismo e à tribo, nos condena a todos”.
Transcrito do livro anexo por Amândio G. Martins
Sabe sempre bem ler algo como isto. A última linha é crucial: a tribo e... "o apelo da tribo"...
ResponderEliminarE tribos há em demasia,cada uma mais convicta de si que a outra...