segunda-feira, 22 de junho de 2020

António de Oliveira Cabral

É um nome que me vem muitas vezes à memória, da meninice. Empregado de uma alfaiataria, ali a 30m. da minha casa, na Rua Conde de São Bento. Homem culto, de fortes convicções, mas que a Natureza tramou. Deficiente físico profundo, demorava nunca menos de 1 minuto a percorrer a distância do local de trabalho, ao Café Himalaia, ali, numa das dependências térreas da nossa casa, cujo inquilino (Manuel Abreu), amigo de infância era também comunista como ele. Mesmo ao lado, a drogaria do meu Pai, era um "perigoso" reduto subversivo.
Foi por diversas vezes detido por pedofilia. A caminho de casa, parava no Parque de N. S. das Dores, onde aliciava, com rebuçados, as meninas que vinham da escola.
Quando me tornei adulto, muitas vezes me questionei, se aquele homem era merecedor de compaixão. Hoje não tenho dúvidas: sim, era.
O meu Pai era dos poucos amigos que o visitavam na Cadeia em Sto. Tirso.
Teve diversos livros de poesia publicados. Entre eles: Estes , Os Meus Versos, de que transcrevo um pequeno texto:                   

                       Acróstico
             
                       (Na Prisão)

                        Celeste, vem do céu. És anjo ou estrela?
                         E eu a julgar-te simples fadazinha!
                        Lembrava-me eu ao ver-te, assim tão bela,
                        Estar vendo uma fada, ó Celestinha.Sejas fada, anjo ou estrela, tu és Aquela
                        Tirsense mui gentil que à tardinha,
                         Eu, enlevado, vejo da janela.

José Valdigem

4 comentários:

  1. Confesso que os seus dois (!) textos me deixaram um "amargor" estranho. O seu (vosso) heroi "várias vezes preso por pedofilia" e poeta da "fadazinha"... Bom, o senhor é que sabe...

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  2. Esse Manuel Abreu de que o Valdigem fala seria um que eu conheci, alto e magro, que trabalhava em molduras para cópias de pinturas, e até tinha uma loja na Póvoa de Varzim, em frentre ao mar?...

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