quarta-feira, 3 de junho de 2020

CLOROQUINA: PRESCRIÇÃO DO BOLSONARO PARA CURA DOS MALEFÍCIOS DO CORONAVÍRUS


A insistência do nosso presidente em forçar o uso de medicamentos derivados da quina na pandemia vai contra todos os estudos científicos a nível mundial, procurando estimular o chamado placebo, quando um fármaco, terapia ou procedimento inerte, apresenta, no entanto, efeitos terapêuticos por influência psicológica ligada à crença do paciente. Só que no presente caso o medicamento proposto nada tem de inerte, por apresentar enormes efeitos colaterais que suplantam e muito os benéficos trazidos pela autossugestão movida pela amplitude da fé do paciente com reflexos no sistema imunológico.
O efeito placebo é um fato reconhecido pela ciência, vem a confirmar o que dizia o grande sábio suíço Paracelso, um dos precursores da moderna medicina: “ A fé (crença) poderá ser verdadeira ou falsa, mas em ambos os casos ela produz sempre resultados positivos”
 Neste sentido existem relatos no folclore popular, algumas fora de lógica e outras até engraçadas: em uma pequena cidade onde hoje está implantada a cidade de Brasília, se aportou um advogado recém-formado, vindo da capital do estado à procura de alguma demanda, com seu escritório ambulante, portando alguns livros e uma indispensável máquina de escrever (Remington).
Ao se instalar correu a noticia que tinha chegado à cidade um doutor, aqui no Brasil costumam designar médicos e advogados de doutores. Por coincidência a filha do chefe político do local, por sinal um coronel muito autoritário, estaria com sérias dificuldades no seu primeiro parto. Após esgotar todas as tentativas possíveis, o coronel manda buscar ajuda do advogado acreditando se tratar de um médico.
O enviado, ao encontrar o causídico, expôs toda situação, este argumentou que não era médico, o interlocutor afirmou que seja o que ele for não aconselharia desobedecer a uma ordem do coronel, sob pena de por em risco sua própria vida.
O advogado pensou como iria sair dessa enrascada, teve então uma idéia, falou que iria fazer uma simpatia, uma espécie de oração ou reza, pegou um papel, foi na máquina de escrever e datilografou (digitou) algumas palavras, colocando no envelope, lacrou, advertindo que jamais poderia ser aberto, pois com a leitura a reza poderia perder o efeito, instruindo que o envelope deveria ser passado na barriga da parturiente, após avisá-la que se tratava de algo divino.
A jovem senhora atendendo o procedimento e acreditando ser esta uma poderosa simpatia, conseguiu com isto consumar o parto. Este envelope passou então a ser um verdadeiro símbolo da natalidade na região. Por anos a fio resolveu inúmeros parto difíceis.
Com o frequente uso, o envelope foi ficando deteriorado, e precisou ser feita uma troca no mesmo. Para tal, foi nomeada uma comissão, sob a presidência do prefeito, para que a troca fosse procedida sem a leitura do conteúdo.
Mas fruto da curiosidade humana, um membro leu e ficou estarrecido com o que estava escrito, e divulgou para toda cidade, a partir de então a simpatia perdeu todo seu efeito.
Sabem o que estava escrito em letras garrafais? Pasmem: “Se você quiser parir, você pare, mas se não quiser, vai à puta que te pariu”.  
Outro fato interessante, um tanto grotesco, relatado por pessoa idônea, aconteceu na zona rural de uma pequena cidade ao sul do estado.
Existia na localidade citada um casal, ele um retirante, uma espécie de trabalhador terceirizado da fazenda, ela uma pessoa muito anêmica e frágil, malnutridos iam levando a vida como Deus quer, lavrando a terra para sobrevivência.
Para agravar a situação ela se apresentou grávida, uma gravidez problemática pela fragilidade de sua saúde. O preocupado marido foi aconselhado pelo curandeiro do local, a lhe atender em todos seus desejos para não agravar seu quadro clínico.
E para aumentar o tormento ela passou a ter desejo alimentar, muito comum nesta situação, um tanto estranho, forçando o marido a atendê-la, motivado pela crença enraizada nas tradições centenárias da região, por não lhe piorar a saúde e para o bem do casamento e do filho.
O marido apesar de um tanto relutante, foi de certa maneira obrigado a executar a tarefa do desejo da mulher, que era ingerir “pum” de porco misturado com farinha.
Toda manhã era visto o desolado marido colocando o prato cheio de farinha de mandioca ou de milho a gosto da esposa, na traseira de algum porco esperando pacientemente a saída dos gases, e após acontecer, depois de rápida mistura a mulher saciava aquele estranho desejo alimentar.
Acontece que queira ou não, esta explosiva e fedorenta mistura veio a fortalecer a mulher tornando a gravidez mais tranquila e propiciando o nascimento de uma robusta criança, que tem hoje inúmeros descendentes, poucos ou nenhum deles, talvez não saiba que suas vidas estão ligadas ao fétido sopro intestinal de suínos.
Outro fato interessante ocorreu numa pequena cidade próxima à capital do estado, fato na época muito noticiado pelos jornais nacionais e até do exterior. De uma hora para outra a imagem de uma santa na igreja local começou a lacrimejar, fato que logo se alastrou, vindo a cidade ficar abarrotada de fieis, não só do Brasil, mas do mundo todo, uns para presenciar o milagre outros à procura de curas para suas doenças.
Inúmeras curas foram registradas e comprovadas, algumas consideradas milagrosas e inexplicáveis à luz dos conhecimentos médico- científicos, todos movidos pela crença exacerbada no fato que estava ocorrendo.
Acontece que após investigação, chegou-se a conclusão que algum pároco, talvez com a intenção de aumentar a fé religiosa da cidade, ou ressentido por falta de dízimos, tenha feito um orifício na parte de traz da imagem e por ali introduzindo uma pequena mecha de algodão embebecido de água e assim propiciando o aparecimento das falsas lágrimas na imagem. Restando hoje a lembrança de uma falsa crença e os benefícios de algumas curas não devidamente explicadas.
Outro fato muito noticiado pela imprensa aconteceu em uma cidade do entorno de Brasília: em algum local de uma determinada árvore apareceu uma espécie de espuma branca que, de vez em quando, fazia cair no chão pequenos pingos.
Logo foi ajuntando pessoas que alardeavam se tratar de coisas milagrosas divinas, já se dizia que aquele produto, ao ser esfregado em uma pessoa artrítica, tinha lhe propiciado uma substancial melhora.
Ao ser mais bem estudado, constatou que se tratava de uma espécie de baba produzida por uma colônia de insetos que ali se instalara, vindo à tona, mas uma vez a dúvida atroz, a cura da doença foi produzida pela crença ou que a substancia detinha propriedades medicinais.
Numa pequena localidade próxima a Brasília, apareceu um paranormal com poderes de curas ditas milagrosas.  As notícias de curas e de cirurgias a ele atribuídas ganhou o mundo. Ao visitar a pequena cidade, tinha-se a impressão que ali não era Brasil, tal a quantidade de pessoas de várias nacionalidades que tomou conta do local. Logo lhe foi dada uma designação de “João de Deus”, tornando-o uma lenda mundial, com descrição de curas em várias celebridades mediáticas. Através de denúncias que ele estaria abusando sexualmente de suas pacientes, de preferência as mais jovens de vários espectros que iam desde as loiras nórdicas até as queimadinhas africanas, de uma hora para outra virou “João do Diabo”, cumprindo pena lhe imposta pela justiça. Atualmente se encontra em prisão domiciliar em função de sua adiantada idade e ainda dono de uma apreciável fortuna. A pequena e não mais pujante cidade caiu no esquecimento da imprensa, só voltando a ser lembrada no último domingo pela visita do presidente Bolsonaro naquela decadente comunidade.
  Concluindo, tenho forte convicção de que no mapeamento de nossa evolução sempre se soube que a atitude do ser humano face à vida, à doença e à própria morte depende do grau da sua confiança em algum tipo de crença, seja ela verdadeira ou não. Que esta crença tenha reflexos na determinação dos cientistas na elaboração de um medicamento que possa curar esta pandemia que atormenta a vida neste nosso sofrido e judiado planeta.

3 comentários:

  1. Sabe o que eu gostaria? De o ter lido ontem... porque me permitiria "zurzir" no Bolsonaro, o que é sempre um prazer! Mas... a revista "Lancet" acabou por me desiludir hoje. Veio "bater no peito" oa dizer que o artigo que publicou e fez proscrever a hidroxicloroquina... pode ter sido incorreto e vai ser sujeito a uma reanálise científica independente. Vivemos um temo de desf«gostos sobre desgostos mas... é a vida!
    Quanto ao efeito placebo (mesmo)... "abençoado" ele seja! Sem ironia, palavra de honra!

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  2. De Bolsonaro, eu espero tudo de mau e... inesperado. Mas esta de ele se estar a candidatar a consultor científico da Lancet nunca me passaria pela cabeça… Ainda se fosse o Trump!
    Quanto à Lancet, é aquilo que é costume dizer-se: no melhor pano cai a nódoa.

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