sexta-feira, 5 de junho de 2020


“Caras de pau” divertidos...


Ao longo da vida todos encontramos os mais diversos tipos de pessoas, agradáveis e antipáticas, educadas e grosseiras; mas as caras raramente dizem o que são os corações, e as pessoas com quem melhor lidei pareciam, à primeira vista, algo abrutalhadas, mas depressa se revelavam muito fáceis no trato.

A propósito de um episódio ocorrido ontem quando, a caminhar na ecovia, um canzarrão com o qual me cruzo com frequência decidiu “abraçar-me”, não para me morder, mas para me dar uma lambidela, que detesto – lambidelas gostava eu de as dar, mas só quando valesse mesmo a pena – o que levou a dona, aparentemente nada simpática, a mostrar-se preocupadíssima, desfazendo-se em desculpas por não ter conseguido segurar o animal. Esta cena trouxe-me à memória dois fulanos que conheci lá na terra do nosso “sócio” Valdigem, pessoas de rosto fechado, mas cuja conversa, passado algum tempo de confiança, era muito divertida.

Conversava certa vez com um deles, na sua loja, quando entrou de rompante um sujeito por ali dentro e, sem cumprimentar quem estava, atirou isto: “Posso telefonar”? O meu interlocutor olhou uns segundos para mim, depois olhou para o homem e disse: “Pode”! O homem olhou à volta, à procura do aparelho, perguntando onde estava, ao que o dono da loja respondeu: “Ah, mas aqui não há telefone”! –Já vi que você é um grande gozão – respondeu o “pobre diabo”, aborrecido, ao que o dito “gozão” lhe disse que respondeu educadamente à pergunta que lhe tinha sido feita, que foi “se podia telefonar”; e pode, desde que vá a um sítio onde haja telefone como, por exemplo, ali ao lado, aos correios.

O outro consertava calçado, aonde eu ia com frequência porque, como sofro sempre que compro novo, demorando a adaptar-me, uso o velho até à última, pois é quando me sinto bem com ele que chega a hora de deitá-lo fora, que adio o mais que posso, levando o “sapateiro” a torcer o nariz àquilo; de uma vez que lhe elogiava o trabalho, lembrando-lhe que me tinha dito que aqueles sapatos já não tinham por onde lhes pegasse, e ali estavam eles, como novos, respondeu-me : “Dou-lhes meio quilómetro, não dou mais”; de uma maneira geral, este senhor, que era muito bom no que fazia, “desvalorizava” a obra sempre que o elogiavam, respondendo que não passava dum sapateiro...


Amândio G. Martins

2 comentários:

  1. Tentando adivinhar: o 1º é o Zé Balsemão Campos, um gozador nato, amigo de infância. Na fase mais crítica do PREC andámos afastados, porque se revelou extremamente reaça. Mas, também eu não estava isento de "culpas" porque era extremamente revolucionário. Hoje considero-o um direitista civilizado e sensato, à imagem do primo famoso.
    O 2º é o Fernando "Barroco", ex-camarada e boa pessoa. Divertido como poucos.

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  2. É muito provável que o Valdigem tenha acertado em cheio; mas, como foi há muitos anos e se me "varreram" os nomes de muita gente, não lho poderei confirmar. Tenho bem claro, no entanto, o apelido "Balsemão Campos", e até me lembro de ter estado nas exéquias fúnebres do pai, na velha Matriz da Trofa, junto à estação do caminho de ferro...

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