“Caras de pau” divertidos...
Ao longo da vida todos encontramos os mais diversos tipos de
pessoas, agradáveis e antipáticas, educadas e grosseiras; mas as caras
raramente dizem o que são os corações, e as pessoas com quem melhor lidei
pareciam, à primeira vista, algo abrutalhadas, mas depressa se revelavam muito
fáceis no trato.
A propósito de um episódio ocorrido ontem quando, a caminhar
na ecovia, um canzarrão com o qual me cruzo com frequência decidiu “abraçar-me”,
não para me morder, mas para me dar uma lambidela, que detesto – lambidelas gostava
eu de as dar, mas só quando valesse mesmo a pena – o que levou a dona,
aparentemente nada simpática, a mostrar-se preocupadíssima, desfazendo-se em
desculpas por não ter conseguido segurar o animal. Esta cena trouxe-me à memória
dois fulanos que conheci lá na terra do nosso “sócio” Valdigem, pessoas de
rosto fechado, mas cuja conversa, passado algum tempo de confiança, era muito
divertida.
Conversava certa vez com um deles, na sua loja, quando
entrou de rompante um sujeito por ali dentro e, sem cumprimentar quem estava,
atirou isto: “Posso telefonar”? O meu interlocutor olhou uns segundos para mim,
depois olhou para o homem e disse: “Pode”! O homem olhou à volta, à procura do
aparelho, perguntando onde estava, ao que o dono da loja respondeu: “Ah, mas
aqui não há telefone”! –Já vi que você é um grande gozão – respondeu o “pobre
diabo”, aborrecido, ao que o dito “gozão” lhe disse que respondeu educadamente à
pergunta que lhe tinha sido feita, que foi “se podia telefonar”; e pode, desde
que vá a um sítio onde haja telefone como, por exemplo, ali ao lado, aos
correios.
O outro consertava calçado, aonde eu ia com frequência porque,
como sofro sempre que compro novo, demorando a adaptar-me, uso o velho até à última,
pois é quando me sinto bem com ele que chega a hora de deitá-lo fora, que adio
o mais que posso, levando o “sapateiro” a torcer o nariz àquilo; de uma vez que
lhe elogiava o trabalho, lembrando-lhe que me tinha dito que aqueles sapatos já
não tinham por onde lhes pegasse, e ali estavam eles, como novos, respondeu-me :
“Dou-lhes meio quilómetro, não dou mais”; de uma maneira geral, este senhor,
que era muito bom no que fazia, “desvalorizava” a obra sempre que o elogiavam,
respondendo que não passava dum sapateiro...
Amândio G. Martins
Tentando adivinhar: o 1º é o Zé Balsemão Campos, um gozador nato, amigo de infância. Na fase mais crítica do PREC andámos afastados, porque se revelou extremamente reaça. Mas, também eu não estava isento de "culpas" porque era extremamente revolucionário. Hoje considero-o um direitista civilizado e sensato, à imagem do primo famoso.
ResponderEliminarO 2º é o Fernando "Barroco", ex-camarada e boa pessoa. Divertido como poucos.
É muito provável que o Valdigem tenha acertado em cheio; mas, como foi há muitos anos e se me "varreram" os nomes de muita gente, não lho poderei confirmar. Tenho bem claro, no entanto, o apelido "Balsemão Campos", e até me lembro de ter estado nas exéquias fúnebres do pai, na velha Matriz da Trofa, junto à estação do caminho de ferro...
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