Em estudo realizado pela Universidade do Minho e pelo Cintesis (Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde), da Universidade do Porto, os investigadores concluíram que os jornalistas portugueses reconhecem ter orientado os cidadãos, durante o período “quente” da pandemia, a adoptarem comportamentos de prevenção, nomeadamente o confinamento. Aplaude-se, naturalmente, a preocupação demonstrada pela saúde pública e a obstrução às notícias falsas, assim se contribuindo para que o país se tornasse um caso de sucesso no controlo da doença, que foi tratada quase como se tivesse sido a mais mortífera pandemia do último século. Não foi: a gripe espanhola (1918) matou entre 17 e 50 milhões, a gripe asiática (1957) entre um e quatro milhões, e a gripe de Hong Kong (1968/69) mais de um milhão; até ao momento, a covid-19 matou menos de meio milhão, segundo números coligidos sob critérios muito diferenciados consoante os países.
Sem esquecer que, à época dos casos referenciados, a população mundial era muitíssimo menor que hoje, e que a actual capacidade de reacção à doença, e à prevenção, por parte da medicina moderna, é infinitamente superior à que então existia, ter-se-á banalizado, porventura, uma arma poderosíssima no combate a eventuais pandemias futuras, quem sabe de morbilidade muito superior. Convém não esquecer a história de Pedro e o lobo, não se sabendo quantos estarão disponíveis para, na próxima, ao menor sinal de alarme, acatarem solicitamente os conselhos, desencadeando o perigo, esse certo, de agravar, por tempo indeterminado, as condições de vida dos mais frágeis.
Expresso - 20.06.2020, curiosamente amputado da parte factual, a sublinhado.
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