domingo, 14 de junho de 2020

E porque seria desta?

 
Será grande o atrevimento, mas não resisto a responder à pergunta capital que Vicente Jorge Silva colocou na sua crónica de domingo: não vai ser desta que ultrapassaremos a fatalidade entre “‘contas certas’ e realidade errada”. Na próxima pandemia, que, estou certo, não tardará muito, as condições mais propícias à propagação do malfadado vírus manter-se-ão na periferia de Lisboa e noutros locais que, se o quisermos, facilmente serão localizáveis. A medida certa para o futuro, para nos precavermos de futuras pandemias, deveria ser a correcção das condições em que essas populações vivem, no meio das maiores desigualdades sociais, em promiscuidade habitacional inaceitável, com condições de transportes deploráveis para quem forçosamente tem de ir trabalhar e não se pode dar ao luxo do teletrabalho. Mas não: é mais fácil confinar tudo e todos, aplicando métodos que só não são os dos chineses porque as pessoas estão completamente predispostas a aceitá-los, à vela de uns ventos soprados pelos meios de comunicação e pelas redes sociais. Passada a fase do susto, voltaremos pacatamente à banalidade das “contas certas”. Como faria Salazar, antes de Maria Luís Albuquerque e Mário Centeno.

Público - 17.06.2020 ("devidamente" amputado da parte sublinhada).

5 comentários:

  1. Como imaginará, estou de acordo consigo... no que quereria dizer. Substituindo "confinar" por "cativar". Assim, até a sua "insidiosa" última linha de texto faria todo o sentido para mim.

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