quinta-feira, 4 de junho de 2020


“Não sou mau, mas o meu cérebro é”...


“Até aqui, parece que o cérebro humano está orientado para formar relações e comunicar. O nosso mundo não devia ser mais do que pessoas de mãos dadas, pessoas a cantar músicas alegres. No entanto, os seres humanos são frequentemenbte horríveis uns com os outros. Violência, roubo, exploração, abuso sexual, tortura, homicídio – nada disto é raro. Mesmo o genocídio, a tentativa de exterminar uma população ou raça inteira, é familiar o suficiente para justificar um termo próprio.

Edmond Burke tem uma frase célebre: “A única coisa necessária para o triunfo do mal é os homens bons não fazerem nada”.Mas provavelmente até é mais fácil para o mal se os homens bons estiverem dispostos a dar uma mãozinha. E porque o fariam? Existem inúmeras explicações relacionadas com factores culturais, ambientais, políticos e históricos, mas os mecanismos do cérebro também contribuem. Nos julgamentos de Nuremberga, onde os responsáveis pelo Holocausto foram interrogados, a defesa mais comum foi que estavam “apenas a cumprir ordens”. Desculpa esfarrapada, certo? Certamente nenhuma pessoa normal faria coisas tão horríveis, fosse mandada por quem fosse? Mas, o que é alarmante, é que parece que era muito bem capaz de o fazer.

Stanley Milgran, professor de Yale, fez várias experiências para estudar esta alegação de estar “apenas a cumprir ordens”. Dispunha dois indivíduos, em salas separadas, em que um tinha de fazer perguntas ao outro. Se fosse dada uma resposta errada, o interrogador tinha de ministrar um choque eléctrico. Por cada resposta errada, a voltagem aumentava. O segredo é que não havia choque. O indivíduo que respondia às perguntas era um actor, que errava de propósito e emitia sons de dor cada vez mais aflitivos sempre que um “choque” era ministrado.

O verdadeiro sujeito da experiência era o interrogador. O estratagema é que acreditava que estava basicamente a torturar uma pessoa, e 65% dos que foram convidados para a experiência não desistiram de continuar a infligir dor intensa em alguém simplesmente porque lhes era dito para o fazerem. E os investigadores não foram buscar voluntários às celas de segurança máxima das prisões: todos os participantes eram pessoas normais, surpreendentemente dispostas a torturar outra pessoa”.


Nota – Transcrito do livro anexo por

Amândio G. Martins

1 comentário:

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