“Não sou mau, mas o meu cérebro é”...
“Até aqui, parece que o cérebro humano está orientado para
formar relações e comunicar. O nosso mundo não devia ser mais do que pessoas de
mãos dadas, pessoas a cantar músicas alegres. No entanto, os seres humanos são
frequentemenbte horríveis uns com os outros. Violência, roubo, exploração,
abuso sexual, tortura, homicídio – nada disto é raro. Mesmo o genocídio, a
tentativa de exterminar uma população ou raça inteira, é familiar o suficiente
para justificar um termo próprio.
Edmond Burke tem uma frase célebre: “A única coisa necessária
para o triunfo do mal é os homens bons não fazerem nada”.Mas provavelmente até é
mais fácil para o mal se os homens bons estiverem dispostos a dar uma mãozinha.
E porque o fariam? Existem inúmeras explicações relacionadas com factores
culturais, ambientais, políticos e históricos, mas os mecanismos do cérebro
também contribuem. Nos julgamentos de Nuremberga, onde os responsáveis pelo Holocausto
foram interrogados, a defesa mais comum foi que estavam “apenas a cumprir
ordens”. Desculpa esfarrapada, certo? Certamente nenhuma pessoa normal faria
coisas tão horríveis, fosse mandada por quem fosse? Mas, o que é alarmante, é
que parece que era muito bem capaz de o fazer.
Stanley Milgran, professor de Yale, fez várias experiências
para estudar esta alegação de estar “apenas a cumprir ordens”. Dispunha dois
indivíduos, em salas separadas, em que um tinha de fazer perguntas ao outro. Se
fosse dada uma resposta errada, o interrogador tinha de ministrar um choque eléctrico.
Por cada resposta errada, a voltagem aumentava. O segredo é que não havia
choque. O indivíduo que respondia às perguntas era um actor, que errava de propósito
e emitia sons de dor cada vez mais aflitivos sempre que um “choque” era
ministrado.
O verdadeiro sujeito da experiência era o interrogador. O
estratagema é que acreditava que estava basicamente a torturar uma pessoa, e
65% dos que foram convidados para a experiência não desistiram de continuar a
infligir dor intensa em alguém simplesmente porque lhes era dito para o fazerem.
E os investigadores não foram buscar voluntários às celas de segurança máxima
das prisões: todos os participantes eram pessoas normais, surpreendentemente
dispostas a torturar outra pessoa”.
Nota – Transcrito do livro anexo por
Amândio G. Martins
A velha "banalidade do mal"....
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