Dia Mundial da Criança

Como pediatra, não poderia deixar de saudar este simbólico dia dum ser que faz o caminho desde o nascimento até entrar na adultícia, aos 18 anos. Um grande bocado da vida, dinâmico  e ascendente , biológica, emocional e cognitivamente.... holistico, portanto. E espantoso sob todos os pontos de vista. Com a criança trabalhei e me realizei, numa apetência que me apareceu fulgurante - embora já fosse pai de duas meninas - no último ano do curso. Nunca mais me esquecerei da primeira pergunta que o Professor da cadeira me fez na oral: sabe o que significa a palavra Pediatria? Vem do grego -" paidós+ iatreia" - respectivamente "criança+tratamento". O mesmo professor que, como director de serviço e três anos mais tarde, me perguntava: você quer mesmo ser pediatra? Resposta: e o senhor acha que, chegado da guerra e pai de três filhos... quero ser cirurgião? Estava eu e mais quatro colegas a apresentar-me como voluntário ao internato da especialidade, enquanto esperava a entrada oficial, que só viria daí a um ano. Nesses tempos a disciplina ainda se chamava, significativamente, "Pediatria e Puericultura" e só mais tarde, com outro director/professor, passou a denominar-se, tam bém com significado, "Clínica Pediátrica e Pediatria Social". Correspondeu, além de outras coisas, a uma mudança entre a taxa de mortalidade infantil das maiores existentes, para actual que é uma das melhores do mundo.
Acham que estou a falar de mim? Não é minha intenção e, relembrando Vergílio Ferreira, entendo que é "falar de mim no acontecer". Esse "acontecer bom" que em que me revejo com a alegria de saber que o escopo é a Criança. Essa mesma que tive dentro do meu parco saber e na minha vida de muito anos e de que hoje se celebra a existência.

Fernando Cardoso Rodrigues