segunda-feira, 22 de junho de 2020


Ler o jornal no – e do – café...


Congratula-se a notícia que os jornais tenham voltado aos cafés, sendo ouvidos alguns dos que aí costumam compartilhá-los, depois de um interregno de meses; normalmente são já conhecidos de ali passar umas horas da manhã: o que chega primeiro tem a primazia de  “estrear” o jornal da casa, e ouço-os a combinar quem está a seguir, a perguntar ao que está a ler se ainda vai demorar muito, e dou comigo a pensar que não teria pachorra para aquilo.

Mas há também os que chegam e, sem cerimónia, pegam em qualquer jornal que vejam em cima duma mesa, nas barbas do “dono” desprevenido, sem nem dizerem “com licença”, e outros ficam-se por isso mesmo, certos de que aquele jornal é do café; quando agora o fazem comigo, sem que os conheça de lado nenhum, são logo metidos na “ordem”, por já estar “escaldado”, dizendo-lhes que não é da casa e já estou de saída.

E tornei-me assim “egoísta” depois de algumas experiências desagradáveis, em que o sujeito se aproxima e, deitando as manápulas ao jornal, pergunta se pode, estando eu na leitura de algum suplemento; acontecia que, quando me preparava para saír e o procurava, o fulano já tinha desaparecido e o jornal já estava noutras mãos, ficando eu “às aranhas” sem saber quais, tendo depois de explicar isto tudo à mulher, quando em casa me perguntava por ele...


Amândio G. Martins

2 comentários:

  1. Mais uma "crónica do dia", boa! Também eu faço parte do grupo dos "egoístas" com o jornal e vou mais longe... faz-me imensa "impressão" ver pessoas a quem o dinheiro não falta, ficarem na "bicha" para a leitura do pertencente ao café. Forretas!
    Bem ao contrário duma "correcção" que fiz a mim mesmo ( embora me continue a custar, confesso...) no ceder lugar à minha mesa a um estranho ( se o café estiver cheio...). Isto porque vivi algum tempo na Alemanha e lá havia esse hábito. E um dia, um solitário domingo, tive a sorte de conhecer um velhote que era uma "biblioteca", além de ter memórias de guerra na Rússia, e, ainda por cima. me permitiu "desatar" o mau "alemão" que eu falava...

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  2. Eu não "choro" a despesa do jornal, que posso comprar porque não tenho outros vícios, alguns bem mais dispendiosos mas, para quem o compra diariamente, dá uma continha razoável ao fim do mês; no caso da mesa eu, que nunca estou no café mais que uma hora, se verifico que há gente à espera de lugar, deixo logo o meu porque, já tendo tomado a minha dose de café, me sinto mal ocupando um espaço que está a fazer falta a outro, embora raramente aconteça...

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