quarta-feira, 31 de julho de 2019

A Gola

- Anda tudo a falar à gola uns dos outros sobre determinado equipamento de protecção contra um pequeno alegado perigo. Eu que ando o ano todo, faça sol muito quente, ou chuva de gelar artérias, com uma camisa feita de 70% de poliester e o resto de algodão, sujeito a queimadelas de grau elevado, causado pela gola da camisa, nunca ninguém quis saber do perigo que corro. Não há um jornal nem Tv que faça notícia do meu vestuário, abertura, continuidade e até ao fecho, de tal equipamento, que adquiri sem concurso público mas de acordo com o rendimento de que disponho. Incessantemente, os fracos mídia que intoxicam - tal como as minhas peúgas acrílicas que uso, que até afugentam os cães mal as cheiram, e provocam enjoo na comunidade - e empurram os portugueses para a mediocridade dos assuntos, e quase disputam a taça do fraquejo noticioso, fazem do caso da "gola de protecção", um caso de importância histórica e de salvação nacional. Parece que tais redactores de informações não têm assunto mais relevante para relatar. Podiam meter-se a caminho e verificar em que fogo vivem os reformados, e de que modo eles apagam a fome que lavra nas suas casas, e nos farrapos que vestem e que não os protege de coisa alguma. Que lutam e vivem dia-a-dia sem qualquer chama que os conforte. No entanto o assunto que faz capa e tenta derrubar qualquer acção ou medida governamental, é o que importa. O crime organizado, a corrupção generalizada, o compadrio autárquico, os afilhados empregados em detrimento dos mais capacitados, das admissões por favor nos lugares da administração pública, dos ex militares que combateram nas ex colónias e que nunca foram ressarcidos nem sequer arranjaram emprego e tiveram que emigrar, deste rol imenso e do omitido, os mídia não querem saber. Apenas se insurgem contra as golas, e não contra quem nos aperta o pescoço e nos asfixia. Eu que ando todos os dias com uma sintética, sujeito a queimaduras, de mim nem o Ministério da Saúde quer saber e não me subsidia para comprar artigo com tecido melhor e mais protector, ou creme que seja. Vou continuar sem andar à gola de ninguém, como até aos dias de hoje, e nos saldos deste verão capaz de me esfolar de cima a abaixo. Eu que não sou de plástico!

-*(DN.mdrª 31-07)
- *(SÁBADO.08.08-019)

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