quarta-feira, 17 de julho de 2019

Cultura (s)

Do debate sobre o racismo, passámos ao debete sobre culturas. No PÚBLICO, Paulo Mendes ( "sociógo e empreendedor") negro e João Miguel Tavares ("jornalista") branco, confrontram-se porque o primeiro ( no rodapé do seu artigo de opinião) verbera que o segundo tenha dito que "há culturas que são superiores a outras". Ao que o segundo responde: " sim, há culturas são superiores a outras".
Entro no jogo, neste nosso "cantinho", porque me parece que os "argumentos" de um e outro, para "defender a sua dama", carecem de propriedade. Aliás os de PM nem sequer existem pois, como já disse, atira a frase no fim dum artigo que versa outro asunto mas que nos permite ver onde a vai buscar: o racismo. JMT asenta a sua asserção ao dizer, mais ou menos, que a cultura está onde os seres humanos procuram mehores condições de vida e, diz ele, onde "há um conjunto de valores, leis, crenças....". Ao primeiro, que coloca o ápodo de "estúpido e ignorante" a racistas brancos a que depois designa por "inteligentes", só para lhes colar a "maldade", não me parece leal quando fala de culturas no rodapé, num "toca e foge" que só insinua mas mas não concretiza. O segundo aduz razões ( "quem escreveu Romeu e Julieta?...") que nada juntam, a não ser uma "superioridade" literária que não civilizacional. E é precisamene a esta última palavra que me atenho para defender como o cerne duma "cultura" realmente melhor, porque humanista e universalista no ponto em que os nosssos corpos e funções são absolutamente IGUAIS e nos torna não escolha de práticas "culturais"(!) mas dependentes da nossa anatomo-fisiologia comum. E se o " Romeu e Julieta " pode ser incomparável, a "burka", feia para mim mas linda para outros,  uma banalidade cultural.... já a excisão do clítoris. a recusa de vacinas, o apredejamento da adúltera, a amputação do carteirista, NUNCA justificam que se lhes chame Cultura e possam ser cotejáveis, mas unicamente chamadas de... barbaridades e, como tal, nem na lei nem na cabeça de qualquer ser humano devam existir! Somente proscritas como atentatórias daquilo que nos é mesmo comum: a nossa humanidade!

Fernando Cardos Rodrigues

4 comentários:

  1. E os “ casamentos” envolvendo menores, a exclusão da escolaridade, a privação de direitos às mulheres, enfim, podia ficar o resto da tarde a enumerar práticas escudadas na “ cultura “ que nada tem a ver com ela - tudo que atente contra a dignidade, a liberdade, em suma, os Direitos Humanos, são crimes; não “ tradições culturais “ . E esses direitos, como o próprio nome indica, são inalienáveis e transversais a todas as “ culturas “ . Subscrevo as suas palavras na íntegra.

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  2. Bem interessante é este tema que nos tem ocupado os espíritos.
    Ao contrário de João Miguel Tavares, não creio haver culturas superiores a outras. Acredito, no entanto, que haja algumas em estádios de desenvolvimento (até tecnológico) diferenciados. A civilização da Cristandade (com maiúscula, por “respeito” a Fátima Bonifácio) já passou - e passa, ainda - por algumas evidências que hoje são apontadas apenas a negros, ciganos e muçulmanos. Sem esquecer que cada uma delas floresce em determinados meios com graus de riqueza variável.
    Do apedrejamento de adúlteras, atá a Bíblia fala.
    Das amputações a ladrões, é comum falar-se, actualmente, mais em caldos de cultura islâmico, mas temo que alguns dos populistas que todos conhecemos (se calhar, até no nosso quotidiano), se tivessem e fossem poder, não desdenhariam da medida. Mesmo o Código de Hamurabi, embora num contexto específico, se lhe refere.
    Dos casamentos de menores, se recuarmos um ou dois séculos, nem precisamos de sair do nosso país para termos exemplos mais do que suficientes. Para falarmos de exclusão de escolaridade, no mesmo espaço, escusaremos de recuar tanto tempo.
    A recusa de vacinação tem sido, ao que julgo saber, tema para um fartote de aleivosias nas redes sociais, não sendo apanágio ou atributo de qualquer etnia em particular, do mesmo modo que a recusa de transfusões sanguíneas.
    Falando da excisão do clítoris, confesso a minha enorme ignorância. Não a consigo, no entanto, separar da ideia de circuncisão. Talvez porque, enquanto estive na Guiné-Bissau, muito ouvi falar de “fanado”, julgo que para caracterizar indiferentemente uma das duas referidas. Especificamente no que toca ao clítoris, só a posso classificar de selvática. Se, hoje, é só praticada entre muçulmanos, não sei, mas, na realidade, ao que se fala, assim parece. Até ver...
    Deixei para o fim a privação dos direitos às mulheres. Haverá coisa mais transversal a todas as etnias, culturas e idades cronológicas?
    Achei muito interessante uma "carta de leitor", de seu nome Vítor Reis, de Fátima, que o Público estampa na edição de hoje, e em que demonstra (?) que o “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, afinal, provém de um poeta árabe do séc.VII que, por sua vez, inspirou um outro poeta, persa, do séc. XII. As andanças e as evoluções das culturas…
    Em tudo isto, sinceramente, não vejo exclusividades étnicas nisto ou naquilo, ou culturas definitivamente superiores a outras. Não esqueçamos o que os cristãos fizeram em Constantinopla (hoje Istambul), aquando das Cruzadas, o que o Holocausto fez, não só a judeus, mas também a ciganos, e o que os criacionistas americanos (e não só) andam por aí a fazer às mentes das pessoas.
    Mas de uma coisa me alegro: se é verdade que estão identificados alguns grupos sócio-económicos (não étnicos), então será muito mais fácil combater a ignorância que por lá grassa.

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  3. Acabado de ler o seu comentário, José, fico com a impressão que ele é muito mais uma explanação do seu pensamento do que uma uma crítica ao que escrevi. Estou certo? O que é totalmente correcto e pertinente... num blogue. Digo isto porque. se assim for, abstenho-me de tentar justificar algumas coisas que me diz e com as quais estou totalmente de acordo e outras com que nem tanto, até porque me fala de situações que não usei no meu texto. Dito isto, pareceu-me que relativiza demais mas, se assim for, está no seu direito. Agora há uma coisa com me irmano consigo: no debate, verdadeiro e lhano em que nos vamos envolvendo e, como é óbvio, é muito reconfortante... num blogue.

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    Respostas

    1. Caro Fernando,
      Tem toda a razão. Deixei-me entusiasmar e, sabe como é… as palavras são como as cerejas. De qualquer modo, perdoe o “abuso” de extravasar o que seria um comentário ao seu texto. Mas ainda bem que os blogues também são isto.

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