sexta-feira, 5 de julho de 2019

Recordando a praia da Cruz-Quebrada – Anos 40

                                                                                 
O que resta deste areal tem sido tema de algumas discussões e muitos moradores desta terra de Oeiras continuam a lutar para que esta praia seja uma realidade, promovendo limpezas do seu areal, embora algumas “entidades” não se lembrem do seu passado. Conheci esta praia no inicio dos anos quarenta do século passado quando a minha família vivia em Lisboa, ali perto da Pampulha. Ainda não havia a Infante Santo e a estação dos comboios mais perto era de Alcântara.
Os meus Pais entendiam que a Praia tinha de fazer parte do nosso bem-estar de crescer com saúde e a praia escolhida naquele ano de início da década de 1940 foi a Cruz-Quebrada porque o acesso da estação dos comboios era óptimo. Assim, pela manhã, a minha mãe, eu e a minha irmã, descíamos a pé da Pampulha até à Estação de Alcântara, apanhávamos o comboio. Saíamos na Cruz-Quebrada. e estávamos no logo ali no areal.
Havia algum movimento nesta estação pois ali ficavam os Fermentos Holandeses e havia a fábrica da Lusalite
Como muita gente, abrigávamo-nos do sol debaixo de um pontão para o lado poente, com uma estrutura de grossas pranchas de madeira. O pontão, diziam, era um cais para possibilitar a pesca. O único protector solar era uma boa camada de creme Nívea.
Depois de algumas corridas à borda de água, com cuidado que “com o mar não se brinca” tomávamos banho chapinhando nas águas espreguiçadas das ondas. Tudo ali à beirinha. Às vezes umas algas. Mas as ondas pequeninas brincavam nos nossos pés. Para finalizar a hora do banho, a nossa Mãe dava-nos um mergulho que ida à praia sem mergulho não cumpria as regras de vida saudável. 
Depois, sentávamos debaixo do pontão e, como muita gente, comíamos o farnel e aconchegávamo-nos nas toalhas a fazer o repouso. Passada a hora do calor, mais umas pequenas brincadeiras: e preparava-se o regresso a casa.
Arrumar a “tralha” bem sacudida da areia, os fatos de banho molhados dentro dos baldes – não havia sacos de plástico – e subir as escadinhas até à gare, comprar os bilhetes e voltar à estação de Alcântara e depois, sempre a pé, devagarinho até casa.
Era um tempo sem autocarros, os eléctricos não passavam na nossa rua e a ligação à estação dos comboios tinha de ser feita a pé. Porque o ar do mar era uma preocupação dos nossos Pais, acabámos por ir viver para Paço de Arcos, voltando à Cruz-Quebrada/Dafundo para visitar o Aquário.
Maria Clotilde Moreira
Jornal Costa do Sol - 03.07.2019

1 comentário:

  1. Um testemunho verdadeiro mas comovente, pela ternura e carinho que transparecem ao longo de todo o texto! Adorei ! Muito bonito!

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