quinta-feira, 18 de julho de 2019


“A régua fazia parte de mim”...


...Conta, pesarosa, D. Teresinha, ex-professora do ensino primário, agora com 86 anos; entrevistada pelo JN a pretexto de um convívio com ex-alunos, que a quiseram homenagear, diz que deu aulas durante 37 anos de total dedicação, num tempo em que as crianças faltavam muito, o que a levava a ir a casa procurá-las.

Diz que se deu de alma e coração à profissão, e “só” tem uma nódoa negra na carreira, que foi ter usado a régua para impor respeito, porque “naquela altura era assim”; pois, era assim e D. Teresinha não inovou, porque “assim” era mais fácil e até os próprios pais, alguns, davam aos professores “carta branca” para desancar sempre que achassem necessário e eles, mesmo que não tivessem “autorização”, não se faziam rogados.

 Mas penso que a tal régua era aquilo que também dava pelo nome de “palmatória”, um instrumento de “tortura” em forma de pá, com buracos na parte redonda; usavam isto e uma cana preta, com que eram fustigadas as crianças por tudo e por nada, porque “naquela altura” os professores não resolviam nada que não fosse à base de cacete.

E a propósito da palmatória, ainda um dia destes, junto à sepultura do Domingos, que foi meu colega de carteira, me lembrei de uma cena que pôs em delírio a turma inteira, menos ele, coitado; é que tendo-se partido a velha palmatória da escola, quando a professora bateu com ela na mesa, o Domingos, que gostava de carpinteirar, porque essa era a profissão do pai, ofereceu-se para fazer uma nova; claro que a mestra aceitou logo, toda contente, e o rapaz, no dia seguinte, lá se apresentou todo vaidoso com a sua obra, perante os olhares e comentários de reprovação dos colegas.

Não posso garantir que aquela franqueza tivesse segundas intenções, assim como ficar isento de levar com ela, mas a verdade é que foi ele mesmo o primeiro a experimentá-la, não recordo porquê, porque também não era preciso grande distúrbio para apanhar, mas sei que todos gozaram à brava e ainda há pouco o fazíamos, quando ele ainda tinha saúde...


Amândio G. Martins

2 comentários:

  1. Conheço uma professora que nunca usou o "Salazar"... e deu aulas por cima de um "cortelho"... e limpou "rabos" a meninos que vinham descalços...

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  2. A minha professora do 1o ciclo é bem mais nova que a D. Teresinha , e também se fazia acompanhar desses “ apetrechos”. Como era “ tímida e sossegada” nunca fui uma das “ laureadas” com a sua aplicação, mas vi ambos em acção. E também ainda tive alguns colegas que vinham descalços para a escola ... As coisas felizmente mudaram, mas não há tanto tempo assim🤔🤔

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