“A régua fazia parte de mim”...
...Conta, pesarosa, D. Teresinha, ex-professora do ensino
primário, agora com 86 anos; entrevistada pelo JN a pretexto de um convívio com
ex-alunos, que a quiseram homenagear, diz que deu aulas durante 37 anos de
total dedicação, num tempo em que as crianças faltavam muito, o que a levava a
ir a casa procurá-las.
Diz que se deu de alma e coração à profissão, e “só” tem uma
nódoa negra na carreira, que foi ter usado a régua para impor respeito, porque
“naquela altura era assim”; pois, era assim e D. Teresinha não inovou, porque “assim”
era mais fácil e até os próprios pais, alguns, davam aos professores “carta
branca” para desancar sempre que achassem necessário e eles, mesmo que não
tivessem “autorização”, não se faziam rogados.
Mas penso que a tal
régua era aquilo que também dava pelo nome de “palmatória”, um instrumento de
“tortura” em forma de pá, com buracos na parte redonda; usavam isto e uma cana
preta, com que eram fustigadas as crianças por tudo e por nada, porque “naquela
altura” os professores não resolviam nada que não fosse à base de cacete.
E a propósito da palmatória, ainda um dia destes, junto à
sepultura do Domingos, que foi meu colega de carteira, me lembrei de uma cena
que pôs em delírio a turma inteira, menos ele, coitado; é que tendo-se partido
a velha palmatória da escola, quando a professora bateu com ela na mesa, o
Domingos, que gostava de carpinteirar, porque essa era a profissão do pai,
ofereceu-se para fazer uma nova; claro que a mestra aceitou logo, toda
contente, e o rapaz, no dia seguinte, lá se apresentou todo vaidoso com a sua
obra, perante os olhares e comentários de reprovação dos colegas.
Não posso garantir que aquela franqueza tivesse segundas
intenções, assim como ficar isento de levar com ela, mas a verdade é que foi
ele mesmo o primeiro a experimentá-la, não recordo porquê, porque também não
era preciso grande distúrbio para apanhar, mas sei que todos gozaram à brava e
ainda há pouco o fazíamos, quando ele ainda tinha saúde...
Amândio G. Martins
Conheço uma professora que nunca usou o "Salazar"... e deu aulas por cima de um "cortelho"... e limpou "rabos" a meninos que vinham descalços...
ResponderEliminarA minha professora do 1o ciclo é bem mais nova que a D. Teresinha , e também se fazia acompanhar desses “ apetrechos”. Como era “ tímida e sossegada” nunca fui uma das “ laureadas” com a sua aplicação, mas vi ambos em acção. E também ainda tive alguns colegas que vinham descalços para a escola ... As coisas felizmente mudaram, mas não há tanto tempo assim🤔🤔
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