terça-feira, 30 de julho de 2019

UM FILHO DE PRESIDENTE PARA EMBAIXADOR


Atento ao bom artigo de Lúcia Gomes (Diplomacia MacDonald), edição de 18/07/19, e aos lúcidos comentários de José Valdigem, que já residiu nas terras brasileiras, e de Fernando Rodrigues, sobre a pretensão do atual presidente do Brasil de ver seu filho nomeado embaixador nos Estados Unidos, tenho a dizer que, caso isto ocorra, será um grande retrocesso na evolução histórica político- administrativa do país.
Não se trata de nada ilegal, mas como diz o apóstolo Paulo (I Coríntios, 6:12), nem todas as coisas lícitas são convenientes. É inaceitável, em regime democrático, a nomeação de filho de presidente sem notória expressão cultural e experiência diplomática para a embaixada de uma grande potência internacional.
Importante ressaltar que, no estágio atual da humanidade, país amigo ainda é utopia, principalmente em se tratando dos Estados Unidos, com sua tradicional prepotência, que levou a líder religiosa adventista Helen White a considerá-los, em seu livro o “Grande Conflito”, como a segunda besta do Apocalipse. O que existe, na realidade, em termos de intercâmbio entre nações, é uma parceria imposta por interesses recíprocos.
Poderá ser um fato inédito na história da República brasileira implantada por um golpe militar   chefiado pelo marechal Deodoro, cuja real intenção era de apenas fulminar o gabinete ministerial presidido por visconde de Ouro Preto. Teria sido melhor a continuidade da monarquia constitucional dirigida pelo sábio imperador D. Pedro II, com um certo aprimoramento, nos moldes britânicos, do já existente sistema parlamentarista.
E assim, caía a única e verdadeira república da América do Sul, segundo afirmou, na época, um governante latino-americano. Mais tarde, num rasgo de bom- senso prestigiando a cultura, nomeou-se o ilustre e liberal monarquista Joaquim Nabuco de Araújo, descendente de família de ascendência portuguesa, fiel amigo do imperador e destacado batalhador pela abolição de escravatura no Brasil, com prévia adoção de um novo sistema agrário, para a embaixada em Washington. Ao assumir o cargo, disse que o aceitava sem adesão ao regime republicano, mas por amor à pátria.
Foi, sem dúvida, um grande ato do presidente Rodrigues Alves (1905). Afinal, república não é coisa nossa, mas coisa pública, como a própria língua latina expressa (RES PUBLICA).        
    
Vivaldo Jorge de Araújo, ex-professor de História e Língua Portuguesa do Lyceu de Goiânia, é escritor e procurador de justiça aposentado do Ministério Público do Estado de Goiás, Brasil.

1 comentário:

  1. Sinto-me suficientemente esclarecido, quanto ao seu pensamento, quando diz: "caso isto ocorra, será um grande retrocesso".
    O Professor é cá dos nossos. É um volteriano. Ou como diz a nossa Ana Gomes: faz uso da sua própria cabeça.

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