Catixa, senhor Pires!...
Fiquei “abestalhado” com o longo texto que o sr. Nuno Pires,
de Bragança, escreveu um dia destes no “Espaço do Leitor” do JN; com o título
“A solidão das rãs”, diz ter nascido numa pequena aldeia atravessada por uma
ribeira de águas puras, onde havia peixes, patos, galinhas-de-água e as
crianças aprendiam a nadar, as pessoas lavavam a roupa, os animais domésticos
se dessedentavam e até as pessoas também lá se debruçavam para matar a sede!
Diz que se desloca à sua aldeia todas as semanas, agora
quase sem gente e sem vida, lamentando que falte companhia humana a ele e às
rãs, que ainda por lá se mantêm coaxando, sem ninguém para apreciar a sua música, apesar dos
efeitos do que chama desenfreada poluição selvagem; e eu não percebo como
consegue imaginar aquelas águas cristalinas, quando a aldeia estava cheia de
gente, que fazia da ribeira todo o tipo de usos, e vê poluição selvagem hoje,
que não há na aldeia gente e animais para conspurcar as águas.
É que, onde não há gente, também não há poluição; também
nasci e cresci numa aldeia assim, atravessada de uma ponta à outra por uma
ribeira, da qual ainda hoje rego a minha horta maior; e também vi as mulheres
lavarem roupa, como fraldas cheias de “caca” das crianças, que na altura eram
muitas e não havia fraldas descartáveis; vi os animais beber e deixar lá urina
e bosta, enfim, eram águas que serviam para tudo, menos para gente beber.
À vista desarmada, as águas da “minha” ribeira são hoje mais
limpas do que outrora, porque já ninguém a usa para as funções acima referidas;
mas, na verdade, sofre hoje de mais poluição química, que lá entra pelas
escorrências de adubos, pesticidas e herbicidas, porque é uma terra com muita
gente e ainda se faz bastante lavoura, agora mecanizada...
Amândio G. Martins
O seu texto fez-me lembrar, não sei de inapropriadamente, de algo para que uma senhora amiga, engenheira química, me alertou. Se vir uma ribeira com água transparente mas sem uma única planta... desconfie! Bem sei que na carta do sr. Nuno Pires havia as rãs solitárias... que também são vida...
ResponderEliminarNunca tinha pensado nisso, mas faz sentido! Tenho que andar mais atenta !
EliminarMas o que esta poluição faz é aumentar desmesuradamente a vegetação, entupindo tudo e alimentando outra que nada tinha a ver com a ribeira de outros tempos; no texto que citei, o que me "encafifou" foi vê-lo dizer que até podiam beber naquelas águas e, agora que não há lá gente, haver na ribeira grande poluição...
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