Quando nos dirigimos a um serviço, a uma caixa de supermercado ou a um balcão por exemplo contactamos directamente com um atendedor com quem falamos e vemos o trabalho e o trabalhador.
Mas há muita coisa que aparece feita sem nos apercebermos que estiveram pessoas a trabalhar como de invisíveis se tratasse. Por exemplo quando pela manhã as nossas ruas estão varridas, os caixotes de lixo e eco-pontos esvaziados, o pão acabado de fazer dentro do saco que deixámos pendurado na nossa porta e até as cartas que entram nas nossas caixas de correio. Estas coisas acontecem sem que na grande maioria se veja quem está a fazer ou fez.
Nestes trabalhos invisíveis há um pormenor que me deixa muitas vezes pensativa quando as pessoas ouvem um discurso de um administrador, director e principalmente de um político cheio de pormenores, trejeitos artísticos de linguagem, grandes referências a números, estatísticas e factos históricos e entram em êxtase pela sabedoria demonstrada. Será sabedoria própria ou o trabalho de uma equipa eclética, trabalhadora que organiza o assunto, lhe dá uma linguagem própria do apresentador mantendo-se no anonimato…
Claro que muitos destas personalidades têm bases e até saber traduzido em graus académicos oficiais mas uma grande maior parte do trabalho é o resultado pesquisado e esquematizado por equipas que no anonimato são o seu suporte. Quantos prefácios em livros e revistas assinados por estas personalidades também são trabalho destes anónimos?
Assim talvez fosse oportuno começarem a divulgar o nome dos homens e mulheres que são as suas rectaguardas, quem constitui as equipas que muitas vezes prolongando horários de trabalho, fornecem parte ou até talvez todo o discurso que estamos ouvindo.
E temos também o trabalho invisível dos avós que muitas vezes depois de uma vida de duros empregos ajudam os seus filhos – agora eles sobrecarregados por horários prolongados e muitas vezes longe de casa – a cuidar dos seus netos.
Mesmo nesta sociedade ajudada por tanta tecnologia os horários são cada vez mais longos, os anos de trabalho para se chegar à reforma prolongados, tardando que antes das atrozes chegarem se possa gozar os dias de chuva no aconchego da casa ou passear nos dias de Primavera.
O mundo assenta, em grande parte, em trabalho invisível, horários prolongados, anos de correrias para o emprego e de submissões para o conservar prevendo que isto tudo se agrave numa politica de lucro a todo o custo, gastando-se os bens que a natureza nos dá… mesmo sabendo-se que um dia haverá um colapso. Mas, entretanto, alguns ganham e gastam milhares esquecendo-se que esta maneira de estar na vida e apesar de lhes dar poder momentâneo um dia atingirá também os seus descendentes.
Maria Clotilde Moreira
Jornal Costa do Sol - 04.12.2019
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