segunda-feira, 2 de dezembro de 2019


Um povo determinado...


O texto do Dr. Fernando Rodrigues, lamentando que uma data tão importante quase tenha passado sem referência, fez-me olhar para um livro de Mário Domingues a que vou com frequência e gosto, tão empolgante me parece ainda hoje,  de que transcrevo apenas alguns apontamentos do começo das suas cerca de 500 páginas.

“A Revolução que permitiu aos portugueses libertarem-se do domínio filipino não se limitou aos acontecimentos rápidos, fulminantes, daquela fria manhã de 1 de Dezembro de 1640. Para quem só conhece a história muito superficialmente, este sucesso reveste-se da sedutora surpresa dos lances de teatro, em que, por manobra de bastidores, a cena se transforma radicalmente aos olhos do espectador embasbacado.

Esquecem-se os ingénuos de que esta mutação brusca requereu muitas horas, muitos dias de trabalho realizado à socapa, para que o efeito se produza na hora exacta. Ora, a Revolução de 1640 não levou somente horas ou dias a preparar; foram necessários seis decénios de sacrifícios, degredos, enforcamentos,  mortes cruéis, para se obter aquela mutação histórica, que tanto surpreendeu os espanhóis como a maior parte dos portugueses.

No dia 25 de Agosto de 1580, quando, após a sangrenta batalha de Alcântara, o duque de Alba entrou em Lisboa e proclamou vencedora a injusta causa de Filipe II, julgando os portugueses definitivamente aniquilados, nesse mesmo dia, apesar dos dois mil mortos de todas as classes, a Revolução libertadora ensaiava os seus primeiros passos com a entrada de D. António, Prior do Crato, na clandestinidade. E a história ofereceu-nos esta lição: um exército derrotado não equivale a um povo irremediavelmente vencido.                                        (...)

Antes de recorrer à força militar, que só interviria se as circunstâncias o determinassem, tratou Filipe II de manietar por meio de suborno os elementos lusitanos que poderiam transtornar-lhe os projectos friamente ponderados: a nobreza e o alto clero.Usou da sua arma predilecta, de grande utilidade nestas situaçãos:  a  corrupção. E deste trabalho se encerregou o português Cristóvão de Moura, que teves artes de tudo comprar, de tudo subornar, em volta desse velho monarca sem fibra nem clarividência que foi o cardeal D. Henrique”.


Amândio G. Martins



1 comentário:

  1. Este é um dos muitos ensinamentos da História: o valor da corrupção. Vale o que vale no limite do tempo, nada vale no decorrer da História. Em suma, empobrece o país que dela sofre.

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