Um povo determinado...
O texto do Dr. Fernando Rodrigues, lamentando que uma data tão
importante quase tenha passado sem referência, fez-me olhar para um livro de Mário
Domingues a que vou com frequência e gosto, tão empolgante me parece ainda
hoje, de que transcrevo apenas alguns
apontamentos do começo das suas cerca de 500 páginas.
“A Revolução que permitiu aos portugueses libertarem-se do
domínio filipino não se limitou aos acontecimentos rápidos, fulminantes,
daquela fria manhã de 1 de Dezembro de 1640. Para quem só conhece a história
muito superficialmente, este sucesso reveste-se da sedutora surpresa dos lances
de teatro, em que, por manobra de bastidores, a cena se transforma radicalmente
aos olhos do espectador embasbacado.
Esquecem-se os ingénuos de que esta mutação brusca requereu
muitas horas, muitos dias de trabalho realizado à socapa, para que o efeito se
produza na hora exacta. Ora, a Revolução de 1640 não levou somente horas ou
dias a preparar; foram necessários seis decénios de sacrifícios, degredos,
enforcamentos, mortes cruéis, para se
obter aquela mutação histórica, que tanto surpreendeu os espanhóis como a maior
parte dos portugueses.
No dia 25 de Agosto de 1580, quando, após a sangrenta
batalha de Alcântara, o duque de Alba entrou em Lisboa e proclamou vencedora a
injusta causa de Filipe II, julgando os portugueses definitivamente
aniquilados, nesse mesmo dia, apesar dos dois mil mortos de todas as classes, a
Revolução libertadora ensaiava os seus primeiros passos com a entrada de D. António,
Prior do Crato, na clandestinidade. E a história ofereceu-nos esta lição: um exército
derrotado não equivale a um povo irremediavelmente vencido. (...)
Antes de recorrer à força militar, que só interviria se as
circunstâncias o determinassem, tratou Filipe II de manietar por meio de
suborno os elementos lusitanos que poderiam transtornar-lhe os projectos
friamente ponderados: a nobreza e o alto clero.Usou da sua arma predilecta, de
grande utilidade nestas situaçãos:
a corrupção. E deste trabalho se
encerregou o português Cristóvão de Moura, que teves artes de tudo comprar, de
tudo subornar, em volta desse velho monarca sem fibra nem clarividência que foi
o cardeal D. Henrique”.
Amândio G. Martins
Este é um dos muitos ensinamentos da História: o valor da corrupção. Vale o que vale no limite do tempo, nada vale no decorrer da História. Em suma, empobrece o país que dela sofre.
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