quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Divagações sobre o Prémio Nobel da Economia

Este ano foi atribuído a três pessoas, uma francesa e dois norte-americanos, todos a trabalhar nos EUA, pelo seu trabalho sobre a pobreza, ou, melhor, sobre a forma de a diminuir. O tema é aliciante,  socialmente benévolo e merece que nos debruçemos sobre ele. Uma vezes com optimismo, outros com dúvida e, no meu caso, com a clara noção do limitado que me poderá sair da boca ( do teclado...), pois baseio-me unicamente numa análise de notícia de jornal ( Sérgio Aníbal no PÚBLICO de ontem), a que junto algumas coisas e considerações pessoais e, obviamente, no direito e obrigação de pensar.
Começo pelo gosto que tive em saber do uso do método experimental com análise empírica, em prejuízo do modelo teórico amparado na matemática. Depois, o simples facto do estudo se ajustar dentro da "nova economia do desenvolvimento" (sic), é outra boa notícia, pois já era mais que tempo que o "desenvolvimento" tomasse a primazia em relação ao estafado "crescimento" ( mormente ao "infinito"...). E termino com uma pequena "brincadeira" de que falarei a seguir.
Realmente o artigo do jornal começa com a seguinte frase que terá sido o ponto de partida dos estudos dos premiados: "Qual é a relação entre vermes intestinais e a melhoria do desempenho do sistema de ensino num país como o Quénia?". Dividindo em dois grupos as crianças, a um foi administrado um vermífugo e ao outro não. O rendimento escolar no primeiro subiu e daí ao diminuir da pobreza foi um outro passo constatado. E lembrei-me que .... o prémio Nobel já poderia ter sido atribuído, há muito tempo, aos pediatras portugueses. Nos tempos em que pobreza, associada à péssima higiene, faziam com que quase todas as crianças portuguesas tivessem "bichas" no intestino, medicávamos, pelo menos uma vez por ano, com um vermífugo que tivesse um espectro que "apanhasse" as lombrigas e os tricocéfalos, que eram os mais habituais e em associação, sem recorrer a análises de fezes. Ou seja, empiricamente. Porque o fazíamos? Porque " as bichas se alimentam das proteínas que seriam para o nosso sustento, fazendo diminuir a carga parasitária, melhor crescíamos, nos desenvolvíamos, melhor rendimento escolar tínhamos e - seguindo o raciocínio  económico agora premiado -.... menos pobre éramos. Resultou? Espero bem que sim, pelo menos um "xisquinho"...
Acabo mesmo, desejando ( mas duvidando, permitam-me) que este caminho seja melhor que o "microcrédito" de Muhammad Yunus que lhe valeu um Prémio Nobel da Paz. O "pessimismo" vem-me de pensar que enquanto não houver gente capaz ( e vai ser difícil) de abrir mão para redistribuir e desenvolver, em vez de só amealhar e crescer, estes prémios serão boas intenções mas pouco eficazes... Assim eu me engane!

Fernando Cardoso Rodrigues

1 comentário:

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