quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Notas sobre a Catalunha

Não vou ser definitivo, porque não tenho o condão da verdade axiomática. Mas há coisas que posso afirmar, telegraficamente. A Constituição espanhola de 1978 não é fascista  e foi aprovada democraticamente; a idade das pessoas - todas - nunca foi sinónipo de fascismo; o Estado espanhol, em que o Chefe de Esatdo é um rei, é democrático; o 25 de Abril em Portugal não é termo de comparação pois foi executado contra uma ditadura que, como sempre, nunca deixaria que fosse a lei a permiti-lo; o 1640 foi a retoma duma anexação... no séc.XXVII; o "imperialismo" espanhol é uma figura de retórica excessiva pois, como já disse, é  democrático o poder; os governos espanhois ( actual e,o anterior) tiveram pouco tacto no uso da política penal; não há superioridade moral da monarquia sobre a república, em termos democráticos, por muito que eu me afirme republicano; uma manifestação violenta não merece o meu aval só porque é republicana.
Ficam-me duas outras afirmações, só aparentemente fora disto. O nacionalismo anda quase  sempre de mãos dadas com o populismo. Prefiro o que agrega do que o que separa, mormente quando a razão é "identitária" pois estou farto de "identidades" que ocultam truculências primárias.Pergunta final: vai a Catlunha independente querer ficar na União Europeia? Arrisco dizer que sim e ... lá se vai a "peitaça" do somos ricos, somos únicos e não precisamos de ninguém. E estarei cá para ver, se um dia os Açores e a Madeira derem o "grito do Ipiranga" contra o " fascista" Estado republicano português...

Fernando Cardoso Rodrigues

7 comentários:

  1. Aviso, desde já, que não venho aqui exercer nenhum “direito de resposta”. No entanto, como já aqui abordei esta questão, gostaria também de acrescentar algumas notas.
    Em primeiro lugar, como já deixei expresso, acho que a Catalunha pouco terá a ganhar, no domínio do “económico”, com a independência. Conheço bastantes catalães que, ideologicamente independentistas, votariam pragmaticamente contra a independência. C’est la vie…
    O imperialismo não é “retórico”, é semântico. Tecnicamente, define-se como o sistema de domínio de uma nação sobre outras, não obrigatoriamente pelo exercício de poderes despóticos. Num Estado com, salvo erro, 17 regiões autónomas, dotadas de governos próprios, pode não haver um domínio despótico, mas que é Madrid quem tem a “faca e o queijo” na mão, disso não tenhamos dúvidas. Repare, Fernando, no entanto, que não falei de “imperialismo espanhol”. Sim do de Madrid, como o comprovarão muitas interpretações da História peninsular (e não só), com que poderemos estar de acordo ou não.
    Compartilho consigo as reservas sobre quase todos os nacionalismos. Mais, irritam-me os que são baseados na tal “peitaça” dos ricos. Se há coisa em que a União Europeia me sensibiliza é exactamente na ideia de solidariedade que tem subjacente, não obstante, nos últimos anos, ter andado tão arredia da prática dos mandantes. Os instintos independentistas catalães apenas baseados nisso não me suscitam qualquer simpatia. Mas não posso deixar de compreender os sentimentos separatistas de muitos catalães, que não nasceram ontem, sobretudo por parte de muitos que têm memória, até por familiares já desaparecidos, do que o centralismo castelhano lhes fez, sobretudo no período fascista, mas também muito antes. De resto, ainda me lembro bem do sentimento generalizado entre os portugueses no que toca aos “espanhóis”, se bem que, em tempos, era “bem”, ensinado nas escolas, virar-se-lhes as costas. Felizmente, as democracias de ambos os lados varreram essas coisas dos nossos quotidianos.
    Em História, dificilmente as coisas são comparáveis. Nunca tive a intenção de o fazer colocando par a par o 25 de Abril português e este movimento catalão. Mas, se é verdade que só em raríssimas (e explicadíssimas) ocasiões se verificaram independências bilaterais, é porque, quase por definição, elas são sempre unilaterais. Afrontando, está claro, a lei vigente. Não quero com isto dizer que sou favorável à independência da Catalunha (mas também não sou contra). Contudo, caso haja alguma “legitimidade” nessa ideia, poderão os catalães aguardar calmamente o acordo de Madrid? Nisto, acho eu, não estarei a ser ingénuo.
    Sem dúvida que é muito melhor agregar do que separar. Mas não a qualquer preço. Há separações sadias. O que não quer dizer que esta o seja.
    Devo reconhecer que não há superioridade moral da república sobre a monarquia ou vice-versa. Há governos “maus” em todos os regimes, e não é isso que está em causa. Mas isso não me impede de ser republicano com muita convicção, e só a ideia do poder (divino?) concentrado num rei mete-me grande confusão.
    No que toca à violência, posso estar a ser ingénuo, mas o que vi foi o consistente apelo contínuo das instituições promotoras das manifestações ao carácter pacífico das mesmas. Que ela está nas ruas, não há dúvida. Será possível que haja arruaceiros a infiltrar as “hostes”? Claro que sim, e não sei de que lado é que eles vêm. Ainda há pouco vi uma manifestação que as promotoras CDR deram por finda e, uma hora depois, ainda havia gente a incendiar. E que não se argumente que a violência das forças policiais é “legítima” porque, em meu entendimento, são essas quem tem a maior responsabilidade de impedir e não promover escaladas.
    O Fernando referiu a falta de tacto no uso da política penal. Pois é aí que está o ponto central do meu texto “Sou republicano”. Tudo isto seria evitável (estarei a ser ingénuo outra vez?) se o galego Rajoy não tivesse puxado dos galões madridistas. Teve tudo na mão, a meu ver, e desbaratou a sorte proibindo BRUTALMENTE a realização do referendo.

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    1. É sempre bom "discutir" consigo. As divergèncias sobre o assunto contarão pouco quando ambos somos pouco axiomáticos. Um aparte: os tais catalães que são independentistas e votariam contra a independência, talvez representem bem parte daquilo a que quero chegar...
      Agora um favor que lhe peço: empreste-me este espaço em que lhe respondo - pois existe, não está bloqueado - para perguntar ao "mundo": 1640, ano da defenestração de Miguel Vasconcelos, não é séc. XXVII?... E, já agora, viu alguma referência à História da Catalunha, no meu texto?...Certa ou errada...

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    2. Realmente voltei a erra: 1640 é séc. XVII. O ter colocado mais dez séculos, é "realmente" duma importância capital para a o que, de facto, estamos a discutir... Vou corrigir, no texto seminal, o que por "trémulo" escrevi duas vezes em erro factual.

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  2. Como será a Terra no século XXVII poucos se atreverão a prever, mas não deve ser boa coisa...

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  3. Qualquer pessoa de boa-fé perceberia que foi um lapso; e o meu comentário não constitui qualquer juízo valorativo, apenas vontade de brincar, que daqui a dez séculos, se ainda houver Terra, pelo caminho que as coisas levam não será boa coisa...

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    1. Entendi perfeitamente, Amândio. No caso do meu erro de escrita, somente coincidiram duas observações, de tons completamente diferentes, uma aqui, outra em texto separado. Decidi não retirar o erro para se perceberem os comentários. Não sou muito dado a catarses mas sim a corrigir erros, mais a mais quando são "importantes" como este do século....

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